Protestar contra a exploração das mulheres tirando a roupa: tudo a ver

Dada a repercussão do artigo do professor Carlos Ramalhete sobre a infeliz “Marcha das Vadias”, publicado no jornal Gazeta do Povo e disponível aqui, resolvi dar minha contribuição ao tema.

Ninguém merece ser xingado ou agredido. Da mesma forma, um cara não “merece” ser furtado ao usar um rolex na Praça Sete, às cinco e meia, seis horas da tarde. Da mesma forma que não é CONVENIENTE um sujeito não usar um rolex a essa hora nesse lugar específico, também não é CONVENIENTE uma mulher usar determinadas roupas em determinados locais ou em determinadas horas. Da mesma forma que existe gente que acha certo bater em prostitutas (“ah, é só uma puta”), xingar mulher de minissaia ou que mulher “provoca” o estupro, existem pessoas que furtam e roubam, e não vêem nenhum problema nisso – às vezes, até arranjam ótimas justificativas para o ato: embolsou o troco errado a mais que o caixa do supermercado lhe passou? “Ah, todo mundo faz isso, é pouquinho esse dinheiro mesmo”.

Claro que o estupro e o abuso sexual são muito mais graves que o furto e o roubo. O que estou dizendo é que ambos são crimes, e protestos inúteis como o da “marcha das vadias” só têm como efeito criar a ilusão de que a “sociedade” é a culpada dos mesmos, quando “sociedade” é um ente abstrato, e não tem nada a ver com isso, porque quem comete um crime é um INDIVÍDUO, uma PESSOA, alguém que deve ser responsabilizado por seus atos. Se essa “marcha das vadias” tivesse realmente alguma intenção prática, deveria, ao invés dessa conversa fiada idiota e frívola, exigir sim da polícia proteção às mulheres – e digo mais: deveria exigir que as mulheres tivessem o direito de portarem armas, para enfiar um tiro na cabeça do bandido que viesse a tentar estuprá-las.

Mas o que essa marcha se propõe é: vamos conscientizar os coitadinhos dos estupradores. Acho que uma boa iniciativa da “marcha das vadias” deveria ser então a de distribuir bonecas infláveis para os ditos cujos. Iria funcionar beleza. Ao menos, na teoria, que é tudo o que esse pessoal sabe – recusam-se a ver a realidade como ela é, idealizando o sonho de um mundo perfeito e impossível, sem crimes, sem vícios, sem mazelas.

De novo: assim como não é conveniente alguém balançar o rolex na Praça Sete, às 5:30 da tarde, não é conveniente andar em determinados horários com determinadas roupas. Isso é fato. Se a sociedade realmente culpasse a vítima, como esses idiotas supõem (“a sociedade diz para você não ser estuprada”, diz um dos cartazes promovendo a tal marcha), eu queria entender, na minha cabecinha pequena, porquê os estupradores são tão bem recebidos na cadeia pelos outros presos.

E aí, novamente o papo: vamos convencer a sociedade que a mulher tem o direito de usar minissaia – mas isso, por tabela, vai convencer aos estupradores? Não. E daí??? Aonde essa marcha vai levar? Protesto contra qual mentalidade? Protesto para “conscientizar a sociedade”? Ora bolas, quem é a “sociedade”? Onde é que a tal “sociedade” diz isso, que mulher não deve se deixar ser estuprada? Dizem que eu faço parte dessa maldita sociedade; agora, se alguém disser que mulher que veste como vadia merece ser estuprada, a minha vontade é de socar o olho do sujeito.

Se o policial lá no Canadá foi infeliz ao utilizar determinado termo, ele poderia falar de outra forma: ajudaria as mulheres se vestirem de determinado jeito, em determinados locais, em determinados ambientes. Mas ajudaria que não saíssem sozinhas em determinado horário. Por que? Porque não temos condições de botar um policial em cada esquina, junto de cada poste de iluminação pública, pra garantir a segurança das moças. E me digam uma coisa: e se realmente “roupas ousadas” atraírem um estuprador, ou provocarem um estupro, um único que seja? A culpa vai ser da “sociedade” ou do monstro responsável pelo crime?

E a lei, se esses idiotas não sabem, prevê o direito à legítima defesa. Em países civilizados, o porte de arma existe, e a lei é utilizada para disciplinar o uso das armas de fogo para esse fim. Não estou falando de ir para a selva com fuzil; estou enfatizando a importância da legítima defesa. E isso não significa todo mundo “começar a se matar”, a não ser que você admita que o sistema de leis onde você vive no Brasil é simplesmente M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-O, funciona, e esses 45 mil homicídios anuais são catástrofes naturais, acontecem espontaneamente (briga de trânsito, vizinho nervoso, etc). Legítima defesa significa: mulheres se defendendo dos marginais que as atacam, se necessário MATANDO-OS (tadinho do estuprador). Selva é justamente o contrário: você admitir que uma mulher não pode usar armas porque é muito feio, vai virar “selva”, ainda que uma arma possa significar a integridade física, ou até mesmo a vida dela. Se é negado a uma pessoa o direito fundamental à legítima defesa da própria vida, aí sim estamos na selva, sob o controle de um estado autoritário, que apenas finge se responsabilizar por nossa segurança. E se 45 mil homicídios anuais não forem sintoma claro e veemente da falência de nossa sociedade, eu não sei é mais nada.

Essa “marcha das vadias” é a mesma coisa que protestar contra o fato de o céu ser azul, ao invés de ser rosa ou verde-limão, é a mesma coisa que protestar contra um terremoto ou a força das ondas do mar. É coisa de gente que beira à psicose, ou à estupidez, de gente que possui a maturidade de uma criança revoltada de doze anos de idade. Histeria coletiva, sintoma de psicose. Apenas isso.