Mensagem do dia (22/10/2019)

O mundo em que vivemos tem necessidade de beleza para não cair no desespero. A beleza é chave do mistério e apelo ao transcendente. É convite a saborear a vida e a sonhar o futuro. Por isso, a beleza das coisas criadas não pode saciar, e suscita aquela arcana saudade de Deus que um enamorado do belo, como Santo Agostinho, soube interpretar com expressões incomparáveis: “Tarde Vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei!”

São João Paulo II (Papa).

Papa recorda que criação e carne «não são desprezíveis» para Deus

Dedica a catequese de hoje a São João Damasceno

Por Inma Álvarez.

CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 6 de maio de 2009 (ZENIT.org).- Segundo Bento XVI, o pensamento cristão, ao contrário de outras religiões ou filosofias, não considera que a criação e que a matéria – a carne – sejam desprezíveis, ainda que estejam feridas pelo pecado, mas que a Encarnação de Deus lhes conferiu um grande valor.

Assim explicou nesta quarta-feira, durante a audiência geral, aos peregrinos reunidos na Praça de São Pedro, continuando seu ciclo de catequeses sobre pensadores cristãos do primeiro milênio, centrado hoje na figura de São João Damasceno.

Pela segunda vez consecutiva, o Papa tomou um teólogo da Igreja oriental (na semana passada foi o Patriarca Germano de Constantinopla) para falar sobre a transcendência que a veneração das imagens sagradas, que se apoia na doutrina da Encarnação, tem para a fé cristã.

Novamente, o pontífice se referiu à tensão iconoclasta que a Igreja do Oriente viveu, que afetou também a vida e o pensamento de São João Damasceno (século VIII), um dos maiores teólogos da Igreja bizantina e a quem Leão XIII proclamou doutor da Igreja em 1890.

No pensamento deste santo se encontram «os primeiros intentos teológicos importantes de legitimação da veneração das imagens sagradas, unindo a estas o mistério da Encarnação».

Ao permitir a veneração das imagens, o cristianismo respondeu não só ao judaísmo, mas também ao Islã, que proíbem o uso cultual da imagem.

Citando Damasceno, o bispo de Roma explicou que «dado que agora Deus foi visto na carne e viveu entre os homens, eu represento o que é visível em Deus. Eu não venero a matéria, mas o Criador da matéria, que se fez matéria por mim e se dignou habitar na matéria e realizar minha salvação através da matéria».

«Por causa da encarnação, a matéria aparece como divinizada, é vista como morada de Deus. Trata-se de uma nova visão do mundo e das realidades materiais. Deus se fez carne e a carne se converteu realmente em morada de Deus, cuja glória resplandece no rosto humano de Cristo», acrescentou.

Neste sentido, acrescentou o Papa, esta doutrina é «de extrema atualidade, considerando a grandíssima dignidade que a matéria recebeu na Encarnação, podendo chegar a ser, na fé, sinal e sacramento eficaz do encontro do homem com Deus».

Desta mesma base procede a veneração na Igreja das relíquias dos santos, algo também próprio do cristianismo, explicou o Papa, pois «os santos cristãos, tendo sido partícipes da ressurreição de Cristo, não podem ser considerados simplesmente como ‘mortos’».

«O otimismo da contemplação natural (physike theoria), desse ver na criação visível o bom, o belo e o verdadeiro, este otimismo cristão, não é um otimismo ingênuo», acrescentou, mas «leva em conta a ferida infligida à natureza humana por uma liberdade de escolha querida por Deus e utilizada inapropriadamente pelo homem».

«Vemos, por uma parte, a beleza da criação e, por outra, a destruição causada pela culpa humana», acrescentou o Papa.

O Papa concluiu pedindo aos presentes que acolham esta doutrina «com os mesmos sentimentos dos cristãos de então».

«Deus quer descansar em nós, quer renovar a natureza também através de nossa conversão, quer tornar-nos partícipes de sua divindade. Que o Senhor nos ajude a fazer destas palavras substância de nossa vida.»

Fonte: Zenit.

Discussão: de aborto de anencéfalos ao nazismo, é mesmo só um pulo…

O William Murat me sugeriu e resolvi publicar em um post a discussão que tive com um leitor sobre o aborto de anencéfalos no post Blog Contra o Aborto: Marco Aurélio de Mello, pede para sair!. Defendo que essa prática pode ser sim interpretada como nazista, na medida em que é uma forma de eugenia. A troca de comentários segue, na íntegra, como foram originalmente postados:

  1. ► Carlos Alberto disse:

    Embora este ministro goste de aparecer, ele está certíssimo! O aborto de anencéfalos será autorizado por ampla maioria. Ninguém – absolutamente ninguém – possui o direito de se intrometer em questões privadas e obrigar uma gestação de um ser que NÃO irá viver por muito tempo. Felizmente ainda existem juízes em Brasília.

  2. ► JORNADA CRISTÃ disse:

    No comentário acima, faltou apenas acrescentar o adjetivo “HUMANO” após o substantivo “ser”. A frase ficaria assim: “Ninguém – absolutamente ninguém – possui o direito de se intrometer em questões privadas e obrigar uma gestação de um ser humano que NÃO irá viver por muito tempo.” Ou o bebê deixa de ser HUMANO só porque, em tese, não viveria por muito tempo?

  3. ► Carlos Alberto disse:

    Deixe de bobagens, você entendeu perfeitamente. Além do mais, qual o sentido de se levar a gestação de alguém que comprovadamente não irá sobreviver por muito tempo? Qual o sentido disso? O aborto de anencéfalos será permitido, podem rezar, fazer promessas, reclamar ao papa, mas será permitido. A vocês só restará o preceito jurídico do “jus esperneandi” – o direito de espernear. E vão cuidar de suas vidas.

  4. ► JORNADA CRISTÃ disse:

    Claro que entendi perfeitamente o que você escreveu. Você é que se esquivou da minha pergunta: o fato de o feto ser anencéfalo desclassifica-o imediatamente como ser humano? Para você, considerar uma pessoa como um ser humano, independentemente da sua condição de saúde, pode ser bobagem. Para mim, não é. A duração da vida de um ser e sua conseqüente “utilidade prática” serve como parâmetro de humanidade para nazistas, não para cristãos. Esteja onde estiver, Hitler deve estar também torcendo pela liberação do aborto de anencéfalos – foi a mesmíssima coisa que ele fez na Alemanha: matar qualquer pessoa que significasse um “peso” e que “comprovadamente” não poderia “sobreviver por muito tempo”; muitas dessas “inovações” são hoje adotadas na Holanda. Quanto ao fato de a justiça vir a permitir o aborto de anencéfalos, tal prática poderá vir a ser legal, mas jamais será lícita do ponto de vista moral – trata-se do assassinato de uma pessoa com deficiência que ainda não nasceu. Aliás, é interessante como você parece ansioso para que seja liberada a morte desses bebês, hein! Que coisa interessante! Pra encerrar, o artigo em questão nem mesmo entra no mérito da questão do aborto de anencéfalos, apenas critica a atitude do ministro Marco Aurélio de Mello, que explicitamente contrariou artigo da Lei Orgânica da Magistratura Nacional.

  5. ► Carlos Alberto disse:

    E é bom não entrar no mérito mesmo pois vocês não entendem nada de leis, quem dirá de moral. Um dos recursos mais rasteiros e pobres de argumentação é querer imputar ao outro a pecha de “nazista”, esquecendo-se de que o papa Ratzinger serviu nas fileiras de Hitler, embora, claro, de forma “compulsória”… Você certamente fica incomodado se tratar os padres somente de pedófilos… Uma das certezas de que temos nesta vida é de que vamos sofrer, mas é o sofrimento advindo da própria vicência. Agora, querer manter o sofrimento por motivos religiosos ou de suposto “crescimento emocional” como alguns defendem é de uma estupidez atroz e de uma irracionalidade animalesca.

  6. ► JORNADA CRISTÃ disse:

    Mudar de assunto sim é “um dos recursos mais rasteiros e pobres de argumentação”. Irônica essa afirmação de que católicos “não entendem nada de leis”, já que o Código de Direito Canônico foi quem transmitiu grande parte do Direito Romano para o ocidente, tornando-se referência para a constituição dos códigos civis de todos os estados nacionais europeus; também é engraçado ler que católicos não entendem nada de moral, já que as bases morais da civilização ocidental se estabeleceram em solo judaico-cristão. Ratzinger, entre tantos, serviu ao exército nazista sendo obrigado a fazê-lo, e deserdou antes do final da guerra sob risco de ser executado. Os links do meu comentário acima estavam quebrados, agora funcionam. Os artigos se referem à prática de destruir a vida de quem os nazistas consideravam indignos de viver. O livro referência para esse belíssimo pensamento chama-se “A destruição da vida destituída de valor”, cujos autores foram o psiquiatra Alfred Hoche e o jurista Karl Binding. Para alguns, talvez esses paladinos da justiça e da eugenia é que entendessem de “leis” e “moral”, não é mesmo? A legalização do aborto de anencéfalos fere o direito à vida, direito este que é fundamental a qualquer cidadão – a não ser que determinadas pessoas não tenham o direito de serem consideradas cidadãs, por manifestarem algum tipo de deficiência. Assim os nazistas interpretavam o direito à vida: algumas pessoas não são dignas desse direito, portanto devem ser eliminadas. Portanto, se a carapuça lhe serviu e está te incomodando, sorry, a companhia realmente não é muito agradável. Qual a diferença entre o que pensavam neste caso os nazistas e aqueles que agora defendem o aborto de anencéfalos? A desculpa dos “iluminados” de hoje é a “humanitária”: acabar com o sofrimento dos pais – como se o aborto não gerasse sofrimento ainda maior para a mulher. Neste site, consultando a tag “aborto”, existem textos citando estatísticas referentes ao efeito que o aborto tem sobre a saúde física e psíquica da mulher. Alguns dados: o aborto (mesmo o espontâneo) aumenta em cerca de 90% o risco da mulher desenvolver câncer de mama nos anos seguintes à intervenção; mulheres que abortam tendem a sofrer abortos espontâneos ou a terem partos prematuros em gravidezes seguintes; a possibilidade de morte da mulher durante um aborto provocado realizado em condições de “segurança” e sob assistência médica são 30% maiores que em um parto realizado sob as mesmas condições; as mulheres que abortam tendem à depressão e as taxas de suicídio entre elas são sete vezes maiores que o normal. Essas estatísticas são provenientes do site The Unchoice.

  7. ► Carlos Alberto disse:

    Você não entende nada mesmo! Os pilares da civilização ocidental são o direito romano e a filosofia grega – que inclusive influenciaram o cristianismo. Como disse o escritor Arthur C. Clarke: “Uma das desgraças da Humanidade é o sequestro da moral pela religião”. Querer comparar o aborto de anencéfalos com o que os nazistas faziam é de uma estupidez, desconhecimento e falsidade atrozes! É estelionato intelectual. Os nazistas matavam por suposta superioridade de raça. Diferente da preocupação com a vida que os ministros do STF estão tendo. Sim, muito mais preocupados com a vida do que vocês que se acham tão humanistas. É o velho recurso daqueles que, não tendo argumentos, se utilizam de seu coringa – imputar ao outro aquilo que eles querem que ele seja, mas que na verdade não é. Você por acaso já se colocou na situação de uma mãe que esteja grávida de anencéfalo? Já imaginou o sofrimento de saber que seu filho NÃO sobreviverá? Já imaginou ter de se afastar de seu trabalho por uma gravidez que não gerará um ser vivo por muito tempo? Qual o sentido disso? Me responda, não utilizando de clichês religiosos, mas de argumentos racionais, psicológicos e juridícos. Qual a razão disso? Porque desconsiderar o sofrimento de uma família nesse caso? Às vezes aqueles que se dizem cristãos me assustam, pois consegume ser mais criminosos e insensíveis do que não-cristãos. É por isso que vocês irão desaparecer. É por isso que estão isolados. Vão acabar virando uma seita de pessoas infelizes e segregadas. Em certo sentido, sou mais cristão do que você, porque me preocupo com a pessoa, com sua vida, e não com dogmas estúpidos inventados na idade média. E isso sem esquecer de um detalhe: Hitler era católico e frequentava a missa regularmente…

  8. ► JORNADA CRISTÃ disse:

    Para começar…

    “Os pilares da civilização ocidental são o direito romano e a filosofia grega – que inclusive influenciaram o cristianismo.”

    São dois dos pilares, e só chegaram até nós graças à principal coluna de sustentação da civilização ocidental: a Igreja Católica. Entretanto, se quiser aprender alguma coisa, pode ler o texto “O Cristianismo visto por um agnóstico”, aqui neste site, além de consultar a obra “Como a Igreja Católica Construiu a Civilização Ocidental”, do historiador norte-americano Thomas E. Woods. Trecho de uma resenha desse livro:

    “Ao estudar a civilização Ocidental e as suas instituições, presentes nos nossos dias em quase todo o mundo, fazemos notar que isso não se deve a uma evolução ocasional e dispersa. A partir das heranças grega e romana, nasceram, a partir de uma matriz cultural cristã que, juntamente com os inevitáveis erros do homem, desenvolveu uma obra civilizacional decisiva. Neste livro do historiador, Thomas E. Woods, nascido nos Estados Unidos da América, o autor centra-se na apresentação do legado do cristianismo, hoje desconhecido ou, mesmo, negado.

    Seguindo a história da Igreja Católica, Woods, demonstra, em capítulos monográficos, o contributo que ela deu à cultura ocidental: a obra civilizadora dos mosteiros na Idade Média, o aparecimento das universidades, as maravilhas arquitectónicas da arte das catedrais, o desenvolvimento da ciência experimental a partir dos finais da Idade Média, as origens do Direito Internacional, os antecedentes da economia moderna na Escola de Salamanca, o desenvolvimento das obras de beneficência quando ainda ninguém se lembrava dos mais pobres, a erradicação progressiva de muitos dos comportamentos desumanos… Em suma, pode ver-se como a fé foi fonte inspiradora de iniciativas e energias para fazer o bem.”

    Passemos agora a analisar seu chilique.

    1) “Como disse o escritor Arthur C. Clarke: “Uma das desgraças da Humanidade é o sequestro da moral pela religião”.”

    Arthur C. Clarke disse isso? Ó céus, nem vou dormir. TODAS AS CIVILIZAÇÕES INSTITUÍRAM SUA MORAL A PARTIR DE VALORES TRANSCENDENTES, RELIGIOSOS. TODAS. A idéia de humanidade surge a partir da idéia original de um Deus Pai de todos os seres humanos – todos somos irmãos porque há um “Pai que está nos céus”. Daí procede a idéia de igualdade entre todos os seres humanos em sua dignidade humana – por isso, o aborto de anencéfalos é injustificável: o anencéfalo não deixa de ser uma pessoa humana. O conceito de “pessoa humana” surge no ocidente a partir da idéia de Deus ser uma pessoa e o ser humano ser criado a sua imagem e semelhança. E é este conceito a base de toda a noção de direitos humanos – coincidência essa idéia de direitos humanos ter surgido no ocidente cristão? Não. Portanto, o escritor (gosto muito do que já li dele, diga-se de passagem) comete um equívoco baseado no seu exercício de “achologia” e inverte a realidade dos fatos. A religião não seqüestrou nada: na verdade, foi o fundamento e norte da moral no ocidente até o advento do iluminismo, quando passou a ser duramente atacada e caluniada, tendo seus méritos e contribuições desmerecidos. Arthur Clarke foi ótimo escritor de ficção científica: neste assunto, não passa de um palpiteiro de boteco. Aliás, quando se é pra meter o pau em religião, Igreja Católica, qualquer um vira doutor, não é mesmo? Até motorista de táxi ateu vira entendido.

    2) “Querer comparar o aborto de anencéfalos com o que os nazistas faziam é de uma estupidez, desconhecimento e falsidade atrozes! É estelionato intelectual. Os nazistas matavam por suposta superioridade de raça. Diferente da preocupação com a vida que os ministros do STF estão tendo. Sim, muito mais preocupados com a vida do que vocês que se acham tão humanistas. É o velho recurso daqueles que, não tendo argumentos, se utilizam de seu coringa – imputar ao outro aquilo que eles querem que ele seja, mas que na verdade não é.”

    Falta de argumentos? Bem, vamos lá. Os nazistas faziam a mesma coisa que você apoia e você vem me dizer que a comparação é falsa? Como assim? Os nazistas promoviam a eugenia por motivos racistas; você apoia a eugenia por motivos supostamente humanitários. A vida de um anencéfalo para você não tem valor; para os nazistas, muito menos! E a comparação é estúpida? Eu não duvido que você tenha boas intenções ao apoiar o aborto de anencéfalos pelas razões que você considera lícitas; o problema, que você não quer enxergar, é que os fins não justificam os meios. A defesa da vida deve ser feita de forma instransigente – a defesa da sua vida, da vida de todos os sujeitos, a vida inclusive daqueles que não nasceram. Você defende o mesmo procedimento que os nazistas aplicavam (a morte de pessoas consideradas inválidas) baseando-se no mesmo princípio: a vida de alguns vale menos que a vida de outros. Você acredita nisso porque sustenta que o custo psicológico para a mãe do bebê não compensa a vida do seu filho. Pois bem, os nazistas acreditavam que o custo econômico para o estado não compensava a vida dessa criança. Portanto, os nazistas praticavam a eugenia baseados no princípio que você segue em seu raciocínio: a vida de algumas pessoas vale menos que a vida de outras pessoas. O motivo, pouco importa! Isso é o primeiro passo para o totalitarismo, pois elenca o valor da vida dos indivíduos a uma hierarquia: essa pessoa “vale” tanto, aquela “vale” menos. E quem vai definir o quanto vale a vida de uma pessoa? O estado? Se hoje a vida de um anencéfalo não é considerada digna, quem te garante que amanhã a vida de uma pessoa portadora de síndrome de Down também não terá sua dignidade reconhecida? Ou a vida de uma pessoa que sofra de lábio leporino? Na Inglaterra, é o que está acontecendo atualmente.

    Qual o critério para se mensurar a dignidade humana? Você, infelizmente, defende o mesmo princípio nazista de que a vida de algumas pessoas não vale a pena ser vivida.

    Agora, dizer que os ministros do STF estão muito “preocupados com a vida” é de uma ingenuidade ímpar (estou sendo bondoso agora). O interesse nessa história toda é abrir uma brecha na legislação para posteriormente empurrar a legalização total e irrestrita do aborto goela abaixo da população brasileira através do poder judiciário – tal como aconteceu nos Estados Unidos no infame caso “Roe vs. Wade”. Isso é preocupação com a vida? Deve ser com a “vida boa” dos donos de clínicas de aborto, os grandes financiadores da campanha mundial pela sua legalização.

    3) “Você por acaso já se colocou na situação de uma mãe que esteja grávida de anencéfalo? Já imaginou o sofrimento de saber que seu filho NÃO sobreviverá? Já imaginou ter de se afastar de seu trabalho por uma gravidez que não gerará um ser vivo por muito tempo? Qual o sentido disso? Me responda, não utilizando de clichês religiosos, mas de argumentos racionais, psicológicos e juridícos. Qual a razão disso? Porque desconsiderar o sofrimento de uma família nesse caso? Às vezes aqueles que se dizem cristãos me assustam, pois consegume ser mais criminosos e insensíveis do que não-cristãos.”

    Quanto a argumentos “psicológicos” e até médicos, já os citei em comentário anterior, e foram solenemente ignorados por você – objetivamente falando, os danos à saúde da mulher causados pelo aborto provocado são bem maiores que o risco que ela corre deixando a gravidez seguir seu curso normal.

    O grande problema é que você se recusa a ver a humanidade do bebê anencéfalo. E o criminoso sou eu! É pra rir? Claro que para você o bebê anencéfalo não passa de um “ser que não sobreviverá”. Ora, se ele não passa de uma “coisa”, então vale tudo. A partir da “coisificação” de um ser humano é que seu raciocínio faz sentido. Um ser humano para ser amado, digno, para ter direito a nascer, ter uma existência, deve, segundo o seu pensamento, preencher algumas condições. E A HUMANIDADE DE QUALQUER SER HUMANO É MORALMENTE INQUESTIONÁVEL! Portanto, o bebê anencéfalo é tão digno de amor, de carinho, de afeto, de direitos e do direito a existir quanto eu, você ou qualquer outra pessoa!

    Será que o sofrimento da mãe em saber que seu filho não sobreviverá por muito tempo será menor se ela matá-lo? Será que o filho dessa mãe não merece uma certidão de nascimento, um nome, um enterro digno como um ser humano? Não merece ter sua cidadania reconhecida, ainda que por pouco espaço de tempo? Não merece ter sido alguém, ainda que sua vida seja efêmera?

    Para você e para os nazistas, não!

    O sentido da defesa da vida dos bebês anencéfalos está na defesa da humanidade de cada ser humano: do fruto do ventre daquela mulher, do fruto da união de dois seres humanos, houve a concepção de um novo ser humano. E isso é inegociável! Esse ser humano não perde sua dignidade e não pode perder seu direito a viver por causa de sua condição física!

    4) “É por isso que vocês irão desaparecer. É por isso que estão isolados. Vão acabar virando uma seita de pessoas infelizes e segregadas. Em certo sentido, sou mais cristão do que você, porque me preocupo com a pessoa, com sua vida, e não com dogmas estúpidos inventados na idade média.”

    Você se preocupa “com a pessoa, com sua vida”… Desde que essa pessoa tenha saúde perfeita, né. Porque se for um bebê, um ser humano, com má formação, aí é melhor matá-lo e jogá-lo no lixo. E lembrando: o criminoso sou eu. Quanto a “vocês vão desaparecer, estão isolados…”, cito Tertuliano, um apologista da Igreja Católica do século II. Já naquela época muitas pessoas tinham essa mesma certeza que você tem: a Igreja Católica vai desaparecer! E no decorrer desses dois mil anos, muitos tentaram concretizar esse seu desejo. Transcrevo o que ele disse a esse respeito:

    “A verdade não pede favor, porque a perseguição não a intimida. Nossa religião sabe que seu destino é ser estrangeira sobre esta terra e que sempre terá adversários. É no céu que ela tem sua sede, suas esperanças e sua glória. A única coisa que aspira é não ser condenada sem ter sido ouvida.”

    (Tertuliano, Apologeticum. Citado aqui).

    Claro que você já está com sua mentalidade totalmente deformada pelo preconceito anti-católico, portanto desfila sua ignorância sobre o cristianismo ao vir com essa de “dogmas inventados na idade média”. Você não tem a menor idéia do que seja um dogma, não sabe nada sobre como foram definidos os dogmas católicos (alguns, após mais de mil anos de discussão). Muito menos sabe sobre Idade Média. Já tomou contato e buscou entender os argumentos não somente dos católicos, mas de todos aqueles (mesmo os não católicos) que são contrários à legalização do aborto de anencéfalos? Não. Já estudou o que a Igreja Católica teria a dizer em sua defesa sobre as coisas das quais é acusada? Não. Já buscou entender o que defende o seu oponente nessa discussão? Não. Você já condenou a Igreja sem ouvi-la. Aliás, pensando bem, é melhor você continuar falando bobagens sobre o que não conhece: vai que você estuda o cristianismo a sério, lê os documentos escritos pela Igreja, estuda o catecismo, conhece a vida dos santos, a gloriosa e maravilhosa história da Igreja Católica, tão deturpada, falseada e caluniada… E de repente resolve se converter e virar católico! Que horror! Pois é, melhor não. Deixa pra lá, melhor ficar mergulhado na ignorância, elegendo a Igreja como a pior coisa que já aconteceu no mundo, é bem mais fácil. Deixe as “pessoas infelizes e segregadas” pra lá, não é?

    5) “E isso sem esquecer de um detalhe: Hitler era católico e frequentava a missa regularmente…”

    Pois é, gente. E quem não tem argumentos sou eu. Segundo o raciocínio, quem freqüenta missas automaticamente é “católico”. A Igreja Católica tem responsabilidade pelos atos de Hitler por ele ter sido batizado e por freqüentar missas? Os nazistas mandaram vários sacerdotes católicos para campos de concentração, muitos foram mortos – especialmente na Polônia. Além disso, são públicas e notórias a relações do nazismo com o esoterismo e o ocultismo, doutrinas comprovadamente anti-cristãs. Certamente você não sabe que Hitler planejou e ordenou seqüestrar o Papa Pio XII durante a Segunda guerra mundial, porque considerava o Papa “antinazista e amigo dos judeus”. Belo católico, esse Hitler! Também não deve saber que nas eleições para o parlamento alemão em 1932 os nazistas foram derrotados em TODAS as regiões de maioria católica na Alemanha. Também ignora que “Quando em 1938 Hitler visitou Roma, Pio XI se retirou da cidade e fechou o Vaticano e os Museus para que Hitler não pusesse os pés lá dentro, e mandou hastear a bandeira a meio pau, em sinal de luto, como protesto pela presença de Hitler em Roma a convite de Mussolini” (texto completo aqui).

    Como você nem deve saber o que é necessário para ser católico, vou te explicar: para ser católico, não basta a pessoa freqüentar a missa regularmente; católico é aquele que segue a doutrina pregada pela Igreja Católica e obedece à hierarquia da instituição. Fato: Hitler não se enquadrava nesses critérios. Portanto, não pode ser considerado um católico. Afinal, até um cachorro pode entrar na Igreja e assistir uma missa.

  9. ► Carlos Alberto disse:

    Seus argumentos são sofríveis. Sofríveis e risíveis. É por isso que o aborto de anencéfalos será liberado. Ninguém conseguiu convencer os ministros a não autorizar. Não conhecem nada de leis muito menos de moral. Que moral pode ter quem protegeu pedófilos? Você não me convenceu até agora porque manter a gravidez de um ser que NÃO irá viver. Qual o sentido disso? Qual o sentido de ser mãe de um feto morto? Vai me responder ou vai ficar repetindo bobagens ad nauseam? E repito: comparar isso com o nazismo é de uma estupidez e falta de argumentos chocantes. Não me consta que eles estavam interessados em salvar vidas. Aliás nem vocês estão interessados. O único objetivo deles era exterminar aqueles que considerava inferiores. Aliás muito semelhante à postura de vocês ao longo da História, vide as cruzadas e a inquisição, exterminando quem pensava diferente. E os mesmos que são contra o aborto nesses casos são os bispos que esconderam casos de pedofilia. Devem ser tão ferrenhamente contra para ter mais crianças para violentar no futuro! E não me venha com divagações porque isso aconteceu mesmo. Só mesmo sendo um débil mental para achar que é “humano” levar uma gestação de um ser condenado à morte até o fim. E quer dizer então que há cardeais “nazistas” na cúpula da igreja, como Monsenhor Fisichella e Carlo Maria Martini, que inclusive já foi cotado para papa? Sim, porque eles várias vezes afirmaram que sob certas circunstâncias o aborto é sim moralmente aceitável. Só os retardados católicos refratários ainda não admitem isso. Maz como felizmente existe gente que usa a cabeça nesse país e não o fígado para pensar, os boçais pseudo-humanistas estão cada vez mais acuados. Quanto a Hitler, ele era católico e recebeu apoio dos católicos, já que o anti-semitismo era corrente entre os católicos alemães de então. Basta ver estas fotos:
    http://aftermathnews.files.wordpress.com/2008/04/priestsalutehitler.jpg
    http://i43.photobucket.com/albums/e372/tlthe5th/nazi-vatican/bonhoeffer_hitler.jpg
    http://s43.photobucket.com/albums/e372/tlthe5th/nazi-vatican/hitler.jpg
    http://s43.photobucket.com/albums/e372/tlthe5th/nazi-vatican/img0117.jpg
    http://s43.photobucket.com/albums/e372/tlthe5th/nazi-vatican/24faulhabernazis.jpg

  10. ► JORNADA CRISTÃ disse:

    “Meus argumentos são sofríveis”: pois é, e você não refutou nenhum! Continua girando em círculos. O aborto de anencéfalos será liberado porque é pretexto para a liberação total do aborto. “Você não me convenceu até agora porque manter a gravidez de um ser que NÃO irá viver.” Você entrou na discussão com espírito aberto, pensando na hipótese de estar equivocado? Não! Então, como é que eu vou te convencer? Para você a vida de algumas pessoas vale mais do que a vida de outras. Você não tem como negar isso. Já respondi à exaustão suas perguntas e você não quer dialogar. Já disse: o bebê anencéfalo tem a mesma dignidade humana que um bebê “normal”. Disso, você passa longe e considera bobagem. A sua idéia é a de que algumas pessoas valem mais que outras. Você não refutou nada. Você é um ignorante assumido, não sabe história da Igreja, não sabe doutrina da Igreja, não sabe uma vírgula de cristianismo, repete falácias para cansar o interlocutor. Fiz a ligação entre nazismo e aborto de anencéfalos, argumentei. Qual seu argumento contrário? Nenhum. Agora, muda de assunto: vai falar de cruzadas e inquisição. Vai insistir que Hitler era católico. Afirmei e provei: os católicos rejeitaram os nazistas nas eleições de 1932. Você reconheceu seu engano? Não! Você insiste nele! Você mostra Hitler ao lado de padres puxa-sacos e daí “óóóóóó”, está provado que Hitler era católico e que a Igreja Católica apoiou o nazismo! Você não sabe nada!!!!! Você não sabe da Encíclica “Mit Brennender Sorge”, escrita em alemão, publicada em 1936, que foi uma crítica direta ao Nacional-Socialismo. Vou transcrever um trecho do verbete da wikipedia – não para você, que fique bem claro, porque sei que vai ignorá-lo, afinal de contas sua cabeça é pequena demais para entrar qualquer coisa que você discorde; transcrevo para quem estiver interessado na verdade dos fatos:

    Na época foi uma surpresa geral para os fiéis, as autoridades e a polícia, a leitura da encíclica nas missas do domingo de Ramos, 21 de março de 1937, em todo os templos católicos alemães, que eram então mais de 11.000 igrejas, a unanimidade foi absoluta. Em toda a breve história do Terceiro Reich, nunca recebeu este na Alemanha uma contestação da amplitude que se aproximasse da que se produziu com a Mit brennender Sorge.
    Como era de se esperar, no dia seguinte o órgão oficial nazista, Völkischer Beobachter, publicou uma primeira réplica à encíclica. Mas, surpreendentemente foi também a última. O ministro alemão da propaganda, Joseph Goebbels, foi o suficientemente inteligente e perspicaz para perceber a força que havia tido a declaração.E, com o controle total da imprensa e do rádio que já tinha por essa ocasião, decidiu que o mais conveniente para o regime era ignorar o mais completamente a encíclica e não lhe dar outra repercussão além da que tivera.

    Após a leitura e publicação da encíclica, as perseguições anti-católicas tiveram lugar. Em maio de 1937, 1.100 padres e religiosos são lançados nas prisões do Reich. 304 sacerdotes católicos são deportados para Dachau em 1938. As organizações católicas são dissolvidas e as escolas confessionais interditadas.

    Até a queda do regime nazista, cerca de onze mil sacerdotes católicos (quase metade do clero alemão dessa época) “foram atingidos por medidas punitivas, política ou religiosamente motivadas, pelo regime nazista”, terminando muitas vezes nos campos de concentração.

    Mas quer saber? Estou perdendo o meu tempo, porque você nem deve fazer idéia do que seja uma “encíclica”! Pior ainda: nem quer saber! Outro detalhe: se o ensino de um cardeal ou mesmo de um papa for contrário ao ensinamento da Igreja, esse clérigo perde sua legitimidade – na história da Igreja (que você não conhece e se orgulha de não conhecer) houve casos de antipapas. Isso vale para quem ensine que Jesus não tenha ressuscitado dentre os mortos, como também vale para aquele que ensina que o aborto é tolerável. Para a Igreja Católica, só é tolerável o chamado “aborto indireto: (evitando propositalmente a expressão errônea ‘aborto terapêutico’) e que se resume a uma causa de duplo efeito.” Para quem quiser se informar a respeito ao invés de repetir o que o umbigo pensa, leia os ótimos textos de Jorge Ferraz e, principalmente, do Padre Luiz Carlos Lodi.

    Pra encerrar, você só sabe ofender, bater o pezinho, resmungar, xingar, desqualificar o adversário. Pensei que você era uma pessoa bem intencionada. Não é. Pensei que estava disposto a um debate. Não está. Não consegue refutar argumentos e parte para as falácias. Você nem sabe o que é um debate: um confronto entre duas pessoas que obviamente pode e até deve conter críticas duríssimas às idéias opostas, mas deve ser honesto, porque as duas pessoas não são donas da verdade, estão apenas procurando por ela, de coração sincero. Em um debate, você deve dar abertura e credibilidade ao oponente. Essa de classificar o outro de “boçal”, “retardado” e “débil mental” é apenas um desabafo emocional de quem não consegue disfarçar a própria ignorância e a incapacidade de refutar os fatos:

    – O bebê que está no ventre de uma mulher, independentemente de ter condições de saúde perfeitas, é um ser humano.

    – Se é um ser humano, deve ter sua vida respeitada, como direito fundamental, até sua morte natural.

    – Se negarmos ao bebê anencéfalo o direito à vida, estamos relativizando o direito que é o primeiro dos direitos por excelência, porque todos os outros direitos humanos – inclusive o direito à liberdade – derivam desse direito.

    – Se negarmos ao bebê ancenéfalo o direito à vida, estamos matando um ser humano em virtude de sua deficiência física e sua suposta “inutilidade” – a mesma coisa que os nazistas faziam, ainda que com outras justificativas: o ato é o mesmo, matar um ser humano porque ele não é digno de viver; os motivos alegados é que diferem.

    Esses são os argumentos que apresentei. Refute-os.

    Como se diz para crianças e para pessoas emocionalmente e intelectualmente imaturas: apelou, perdeu, rapazinho.

  11. ► Carlos Alberto disse:

    Você é um tolo ignorante que se acha sábio. Grosseiramente confunde alhos com bugalhos. Anencéfalo não é deficiente, ele não tem cérebro, portanto não sobreviverá. Nenhum ser humano sobrevive sem cérebro (embora você seja uma exceção…). Você tenta imputar ao outro aquilo que ele não é. Ninguém aqui está defendendo aborto de deficiente, mas sim de anencéfalos. Sei que é perda de tempo, mas…porque uma mulher levaria uma gestação até o fim, se afastando do trabalho, comprando enxoval, para um bebê que comprovadamente não irá sobreviver? Esse é o ponto central que você passou ao largo. A moral é relativa, meu caro. E é perfeitamente lícito permitir a interrupção nesses casos. É claro que o anencéfalo é um ser humano – mas um ser humano mal formado e incompleto, sem condições de sobrevida. Portanto, para quê manter um sofrimento inútil? Isso é para fanáticos religiosos, como aqueles que se supliciam achando que estão expiando os pecados. Para as famílias que infelizmente são atingidas por essa tragédia, sofrimento já é saber que o feto é anencéfalo – levar a gestação até o fim é um ato desumano e descabido. Por isso os ministros do STF vão autorizar por “goleada” a interrupção nesse caso. Quanto a vocês, só resta espernear e procurar uma outra causa para ocupar suas vidas vazias.

  12. ► JORNADA CRISTÃ disse:

    “Você é um tolo ignorante que se acha sábio.”

    Se sou tolo, ingorante ou o escambau, isso não está em discussão aqui. Se me acho sábio ou o que quer que seja, isso não está em discussão também! Tsc, tsc… Você tá gastando muitos caracteres fugindo do assunto…“Grosseiramente confunde alhos com bugalhos. Anencéfalo não é deficiente, ele não tem cérebro, portanto não sobreviverá.”

    O bebê anencéfalo deixa de merecer a alcunha de “ser humano”? Mais abaixo, você mesmo dá o braço a torcer… O bebê ancencéfalo é um ser humano. Por ter má formação, ele deixa automaticamente de ser uma pessoa, um membro da raça humana? Não. E daí vem com faniquitos, me xingando, porque ainda que tente justificar, não consegue fugir desse fato. Discutir com você está virando uma piada.

    “Nenhum ser humano sobrevive sem cérebro (embora você seja uma exceção…).”

    Quá, quá, quá, quá! Adorei a piada, sério. E agora, o que vai fazer? Defender o extermínio de pessoas sem cérebro, como eu? Você já defende o extermínio de pessoas sem cérebro que ainda não nasceram. E as já nascidas, também devem morrer? A humanidade seria melhor sem pessoas “descerebradas” como eu? Hum… Olha que vou começar a ficar com medo de você, hein…

    “Você tenta imputar ao outro aquilo que ele não é. Ninguém aqui está defendendo aborto de deficiente, mas sim de anencéfalos. Sei que é perda de tempo, mas…porque uma mulher levaria uma gestação até o fim, se afastando do trabalho, comprando enxoval, para um bebê que comprovadamente não irá sobreviver? Esse é o ponto central que você passou ao largo.”

    Não passei ao largo, não senhor. Vou repetir: um bebê anencéfalo também é ser humano. Isso você não refutou – ao contrário, afirma mais abaixo. Ao negar o direito à vida a um anencéfalo, está-se negando o direito à vida a um ser humano por motivos utilitaristas. O fato de o bebê teoricamente não sobreviver muito tempo após o parto é irrelevante neste sentido. Repetindo: o bebê anencéfalo não deixa de ser uma pessoa. Nem mesmo você nega isso. A lógica de que o aborto é uma solução, um alívio para um casal, uma mãe, que espera o nascimento de um filho, é falsa. De novo o que já comentei, citando estatísticas que comprovam: o aborto, em qualquer circunstância, mesmo em casos espontâneos, é extremamente prejudicial à saúde física e mental da mulher. Logo, pais que se convençam de que esperam um filho, ainda que ele não sobreviva por muito tempo, estariam mais aliviados se a gravidez fosse interrompida? O trauma psicológico de um aborto provocado é imensamente maior que a morte de um bebê após o parto. Os números confirmam. O bebê anencéfalo não deixa de ser filho dessa mãe, desse pai. Sua visão é simplesmente materialista: se baseia em “tempo”: a mãe vai perder “tempo” em uma “gestação que não vai dar em nada”. O que é uma gestação que vai dar em alguma coisa? A gestação de um ser humano que possa sobreviver. Entretanto, se o bebê não tiver expectativa de vida, ele deixa de ser uma pessoa? Não deixa. Para você, o direito à vida de uma pessoa não precisa ser respeitado porque, supostamente, seus pais vão sofrer com a gravidez. Vão sofrer também com o aborto – e mesmo assim, o sofrimento deles será maior que o escândalo da morte do próprio filho?

    O direito à vida é fundamental e não pode ser relativizado. Você não consegue refutar a isso. O direito à vida do bebê é maior que o direito à liberdade dos pais em eliminá-lo. E é essa premissa que pode garantir a liberdade de todos os cidadãos, porque o direito à liberdade depende do direito à vida. Se o direito à vida for relativizado, a morte de inocentes é justificada. Você defende a morte de pessoas por não terem cérebro; ou seja, o direito à vida deixa de ser fundamental e torna-se relativo. A partir daí, basta inventar novos pretextos – e a luta pela aprovação do aborto de fetos anencéfalos não diz respeito a razões humanitárias, ao contrário do que você pensa; é a porta aberta para a aprovação do aborto como um direito através do poder judiciário. Por que? Porque será aberta a caixa de Pandora. Se a vida de fetos anencéfalos não vale nada e a mãe pode decidir a respeito, abre-se uma brecha que vai justificar todo e qualquer tipo de aborto. E por que? Porque, quando se relativiza a dignidade humana de um grupo de pessoas, abre-se espaço para se questionar o direito à vida de outros grupos também. E foi exatamente isso que os nazistas fizeram: colocar em prática o preceito de que a vida de algumas pessoas vale mais que a vida de outras. Você apoia uma idéia nazista, sim: o extermínio de pessoas que não devem ser consideradas merecedoras do direito à vida.

    “A moral é relativa, meu caro. E é perfeitamente lícito permitir a interrupção nesses casos. É claro que o anencéfalo é um ser humano – mas um ser humano mal formado e incompleto, sem condições de sobrevida.”

    Hum… A moral é relativa? Relativa a quê? Aos interesses do estado? Aos interesses dos donos das clínicas de aborto, que entopem de dinheiro as ongs feministas e manipulam a mídia? É a eles que a moral é relativa? Pelo menos você finalmente reconheceu: “o anencéfalo é um ser humano”! Menos mal. E se é um ser humano, tem direito à vida. Se não tem direito à vida, um direito fundamental lhe está sendo negado, porque o direito à vida é inalienável a qualquer ser humano inocente. Você pode negar isso?

    Segundo sua lógica, a vida de bebês anencéfalos vale menos que a vida dos outros bebês. Ora… Vou ter que repetir de novo? A um grupo determinado de seres humanos (bebês anencéfalos) está sendo negado o direito à vida. E isso é injustificável.

    “Portanto, para quê manter um sofrimento inútil?”

    Portanto… É uma contradição matar alguém para aliviar o sofrimento de outrem. Repetindo: você fala como se o aborto fosse um alívio. Em primeiro lugar, o melhor para a saúde física e mental da mulher é levar a gestação adiante. Em segundo lugar, todo sofrimento para o materialista é inútil, então isso não faz a menor diferença para quem defende que pessoas devem morrer para diminuir o sofrimento de outros.

    O que você não quer discutir é o que repito insistentemente: o direito à vida não pode ser relativizado; se alguns indivíduos perdem seu direito à vida de forma arbitrária sem culpa, todos os indivíduos, em maior ou menor grau, passam a correr riscos. Veja a situação da eutanásia na Holanda: milhares de casos já acontecem nesse país sem ter o consentimento dos próprios doentes (a quem interessar, leia aqui, aqui, aqui e aqui). Isso porque meia dúzia de iluminados bem intencionados tais como você tiveram a brilhante idéia de colocar a mitigação do sofrimento como valor superior ao direito à vida de outrem.

    “Isso é para fanáticos religiosos, como aqueles que se supliciam achando que estão expiando os pecados. Para as famílias que infelizmente são atingidas por essa tragédia, sofrimento já é saber que o feto é anencéfalo – levar a gestação até o fim é um ato desumano e descabido. Por isso os ministros do STF vão autorizar por “goleada” a interrupção nesse caso. Quanto a vocês, só resta espernear e procurar uma outra causa para ocupar suas vidas vazias.”

    Bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla… A mesma conversa mole de sempre. Eu realmente queria saber de onde vem esse sentimento de superioridade de quem não tem religião sobre aqueles a quem chamam jocosamente de “fanáticos religiosos”… Os ministros vão autorizar por “goleada”, parabéns. Você realmente trata essa questão de forma tão banal como uma partida de futebol, e o nível do que você escreve se assemelha a ao que dizem esses debatedores de programas esportivos na televisão, berrando ao mesmo tempo que um monte de gente naquelas mesas redondas de domingo à noite, todo mundo falando a mesma coisa.

    Hitler bateria palmas, ele também deverá ficar muito feliz com essa decisão (esteja onde estiver…). Uma lástima que você esteja junto com ele, lado a lado na arquibancada, agitando bandeiras e pulando. Pelo que escreve, você se acha muito esperto, mas é incapaz de perceber o avanço da cultura da morte, uma ameaça palpável não somente à liberdade, mas ao próprio direito à vida de todos nós – e isso em um prazo de tempo muito mais curto que você imagina.

Do abismo à plenitude: homenagem a Viktor Frankl

Reproduzo aqui texto que publiquei em 21 de março de 2005 no site “Abacaxi Atômico” a respeito de Viktor Frankl e a logoterapia. Lembro-me, com muita saudade, do curso “Renascer Jovem”, ministrado pelo Padre Tonico, que era baseado na literatura desse grande psiquiatra austríaco. Boa leitura a todos!

Aos homens não basta saber que existem, mas para quê existem.

Viktor Frankl em Psicoterapia e Sentido da Vida.

No próximo sábado, dia 26 de março [de 2005], uma das figuras humanas mais extraordinárias do século XX estaria fazendo aniversário de 100 anos. Estou me referindo a Viktor Frankl, psiquiatra austríaco. Provavelmente você nunca ouviu falar deste cara, mas certamente conhece a expressão “vazio existencial” – foi ele quem a criou nos idos dos anos cinqüenta. Embora seja um ilustre desconhecido em nosso país, seu principal livro Em Busca de Um Sentido (Man’s Search for Meaning) vendeu mais de cinco milhões de cópias apenas nos Estados Unidos e foi considerado, segundo matéria do New York Times de novembro de 1991, um dos dez mais influentes livros nos EUA.

Frankl nasceu em Viena. Aos 14 anos, na escola, fez a um professor uma pergunta que mudaria o curso de sua vida.

Enquanto estudante de 14 anos no ginásio, eu fiz algo que era muito incomum na ocasião. Eu tive um professor de Ciências Naturais que era muito distante, que ensinava do modo como uma pessoa esperaria que os cientistas o fizessem. Um dia ele afirmou que a vida é simplesmente um processo de combustão, nada além de um processo de oxidação. Levantando repentinamente eu o questionei, “Mas Professor, então que sentido a vida têm?”

Claro que um reducionista/materialista não é capaz de responder a esta pergunta, porque para ele não existe nada mais que a matéria. O absurdo é, nas palavras de Frankl, “promover sua própria incredulidade sob a aparência de ciência”. Quantos sabichões estufam o peito, orgulhosos de tanto saber, mas cuja arrogância é ainda maior que a inteligência que possuem. O fato de a ciência materialista não conseguir uma resposta para isso, não quer dizer que essa inquietação não exista. Mais que isso, negar uma resposta para essa pergunta é negar a própria humanidade do ser humano.

E afinal, qual é o sentido da vida? Frankl sempre buscou encontrar e extrair um significado de todos os eventos que aconteciam em sua vida. Oportunidades não faltaram. Formou-se médico em 1930 e trabalhou em um hospital psiquiátrico em Viena, sendo responsável por milhares de pacientes suicidas. Perdeu o melhor amigo executado pelo regime nazista. Judeu, foi prisioneiro nos campos de concentração nazistas de Auschwitz e Dachau, onde ficou por quase três anos. Ao ser libertado, descobriu que havia perdido quase toda sua família: foram mortos seu pai e sua mãe, além de sua esposa e seu irmão. Somente sua irmã, que fugiu da Europa antes da guerra, permanecia viva.

Ao invés de se deixar consumir pelo rancor, a amargura, o ódio e o ressentimento, Frankl reconstruiu sua vida, pois tinha objetivos a cumprir – metas traçadas durante sua experiência nos campos de concentração, onde, nos momentos mais duros, ele se lembrava de sua esposa e seus familiares, na esperança de revê-los novamente, e carregava consigo a determinação de terminar um livro cujo manuscrito havia sido destruído ao ser preso. Após a sua libertação, ele retomou o trabalho interrompido e reescreveu o manuscrito perdido, de onde publicou o livro The Doctor and the Soul. Em seguida, lançou Man’s search for Meaning (Em Busca de Um Sentido, lançado no Brasil pela editora Vozes), livro em que narra sua experiência pessoal nos campos de concentração – e daí retira lições de fundamental importância para o desenvolvimento de sua teoria psicoterapêutica: a logoterapia.

Durante o cativeiro, Frankl observou que aqueles que sobreviviam à violência, aos maus tratos, aos trabalhos forçados e à fome, quase sempre eram justamente aqueles que conseguiam encontrar um significado para seu sofrimento e mantinham uma esperança de saírem com vida dos campos, seja porquê almejavam reencontrar seus entes queridos ou voltar a trabalhar naquilo que os realizava. Mesmo aqueles prisioneiros fisicamente mais fortes e mais saudáveis, se perdessem a esperança e a vontade de viver, morreriam logo. A determinação de Frankl em sair do campo para continuar a escrever seu livro e para reencontrar sua família ajudam a explicar como ele próprio sobreviveu a condições subumanas de tratamento, aos trabalhos forçados, à subnutrição – para completar, conseguiu se reestabelecer de um ataque de febre tifóide no final da guerra.

Ao contrário de Sigmund Freud, que dizia que a força motivadora do ser humano era o “princípio do prazer”, e de Alfred Adler, outro psiquiatra austríaco (autor da expressão “complexo de inferioridade”), que dizia que a “busca de superioridade” (“vontade de poder”) era o que determinava as ações dos indivíduos, Frankl afirmava sem titubear: a sua teoria, a logoterapia, “concentra-se no sentido da existência humana, bem como na busca por este sentido”. O desejo de encontrar um significado para a própria vida é o que faz a vida valer a pena. O homem é livre para escolher seu caminho e encontrar o sentido para sua existência. A vontade de sentido é o que move o ser humano.

Frankl diz que o ser humano é livre para assumir uma postura frente à realidade que o cerca. Todo ser humano é livre – e ninguém pode tirar do ser humano esta liberdade.

Até mesmo numa situação onde você não tem nenhuma liberdade externa, quando as circunstâncias não lhe oferecem qualquer escolha de ação, você retém a liberdade para escolher sua atitude ante uma situação trágica. Você não se desespera porque esta escolha está sempre com você até seu último momento de vida.

Mas esta liberdade deve ser precedida pela responsabilidade.

É por isso que eu recomendei nos EUA que, além da Estátua da Liberdade na Costa Leste, deveria haver a Estátua da Responsabilidade na Costa Oeste.

Ou seja: somos livres para assumirmos uma postura frente ao mundo, mas somos responsáveis por esta escolha. Temos que assumir então, em conseqüência de nossa liberdade, a responsabilidade por tais escolhas, com as conseqüências que advêm de nossas ações. Cabe a cada ser humano perceber e superar as suas culpas. Se percebemos que a vida realmente tem um sentido, percebemos também que somos úteis uns aos outros. “Ser um ser humano é trabalhar por algo além de si mesmo.”

Assim sendo, o sentido da vida pode ser encontrado por uma pessoa através de três caminhos:

1) o exercício de um trabalho que seja importante, ou a realização de um feito, uma missão, que dependa de seus conhecimentos e de sua ação, e que faça com que a pessoa se sinta responsável pelo que faz;

2) o amor a uma pessoa ou a uma causa, uma idéia, o que estabelece uma responsabilidade para com a pessoa amada ou à causa defendida;

Um pensamento me traspassou: pela primeira vez em minha vida enxerguei a verdade tal como fora cantada por tantos poetas, proclamada como verdade derradeira por tantos pensadores. A verdade de que o amor é o derradeiro e mais alto objetivo a que o homem pode aspirar. Então captei o sentido do maior segredo que a poesia humana e o pensamento humano têm a transmitir: a salvação do homem é através do amor e no amor. Compreendi como um homem a quem nada foi deixado neste mundo pode ainda conhecer a bem-aventurança, ainda que seja apenas por um breve momento, na contemplação da sua bem-amada. Numa condição de profunda desolação, quando um homem não pode mais se expressar em ação positiva, quando sua única realização pode consistir em suportar seus sofrimentos da maneira correta – de uma maneira honrada -, em tal condição o homem pode, através da contemplação amorosa da imagem que ele traz de sua bem-amada, encontrar a plenitude. Pela primeira vez em minha vida, eu era capaz de compreender as palavras: “Os anjos estão imersos na perpétua contemplação de uma glória infinita”.

3) diante de um sofrimento inevitável, assumir uma postura de buscar um significado e utilidade para a dor, pois através da experiência cada pessoa pode contribuir para a vida de outras pessoas.

Frankl foi submetido, junto com outros milhões de pessoas, à experiência degradante e desumanizante dos campos de concentração, onde os indivíduos eram reduzidos a um nível infra-humano, sendo considerados menos ainda que animais. O prisioneiro era desprovido de todos os seus bens, suas roupas, seus objetos e até de seus nomes. Mas ainda assim ele e outros se mantiveram firmes no propósito de sobreviverem – porque suas vidas tinham um sentido. E, ao assumirem seu sofrimento com dignidade, Frankl e tantos outros deram ao mundo um inestimável e vivo testemunho de transcendência. O ser humano existe para transcender, para ultrapassar limites.

Num mundo assolado pelo consumismo materialista, pela negação da humanidade do ser humano, pela banalização pura e simples do prazer (pois, segundo os niilistas, a vida não tem nenhum significado) e pelo vácuo de sentido experimentado por milhões e milhões de pessoas que simplesmente não conseguem encontrar uma utilidade para sua existência, a voz quase solitária de Viktor Frankl tornou-se referência para tantas outras pessoas. Sua coragem, determinação, caráter e despreendimento levaram-no às alturas do espírito humano, bem acima de Freud, Adler, Skinner, entre outros pioneiros, dos quais, diga-se de passagem, com elegância inaudita, ele próprio reconhece as contribuições e seus méritos. Mas as teorias destes precursores são incompletas, porque não abarcam o ser humano em sua totalidade, em sua potencialidade de realizar-se, transcender-se e doar-se. Finalizo este texto com palavras de Viktor Frankl:

Dentro de cada um de nós há celeiros cheios onde nós armazenamos a colheita da nossa vida. O significado está sempre lá, como celeiros cheios de valiosas experiências. Quer sejam as ações que fizemos, ou as coisas que aprendemos, ou o amor que tivemos por alguém, ou o sofrimento que superamos com coragem e resolução, cada um destes eventos traz sentido à vida. Realmente, suportar um destino terrível com dignidade e compaixão pelos outros é algo extraordinário. Dominar seu destino e usar seu sofrimento para ajudar os outros é o mais alto de todos os significados para mim.

Viktor Frankl faleceu em 2 de setembro de 1997, aos 92 anos.

Alguns textos e sites sobre Viktor Frankl e a logoterapia

Site oficial do Viktor Frankl Institut
Biografia e obras de Viktor Frankl
A mensagem de Viktor Frankl – texto de Olavo de Carvalho
Coletânea de pensamentos de Viktor Frankl
Sociedade Brasileira de Logoterapia

Bento XVI: Cristo “é o verdadeiro Senhor do mundo”. E as implicações disso na cultura ocidental

Transcrevo aqui um texto inspiradíssimo de Sua Santidade, pronunciado hoje na tradicional audiência geral das quartas-feiras. A partir dele, proponho uma reflexão. Vamos lá:

Para o mundo pagão, que acreditava em um mundo cheio de espíritos, em grande parte perigosos e contra os quais era preciso defender-se, aparecia como uma verdadeira libertação o anúncio de que Cristo era o único vencedor e de que quem estava com Cristo não tinha que temer ninguém. O mesmo vale para o paganismo de hoje, porque também os atuais seguidores destas ideologias vêem o mundo cheio de poderes perigosos. A estes é necessário anunciar que Cristo é vencedor, de modo que quem está com Cristo, quem permanece unido a Ele, não deve temer nada nem ninguém. Parece-me que isso é importante também para nós, que devemos aprender a enfrentar todos os medos, porque Ele está acima de toda dominação, é o verdadeiro Senhor do mundo.

Para ler todo o texto, que faz parte de uma série de reflexões sobre São Paulo, dentro do Ano Paulino (estamos comemorando dois mil anos de seu nascimento), clique aqui.

O que me chamou a atenção nesta passagem foi o seguinte ponto: para quem acompanha este blog, apenas alguns dias atrás citei uma fala de Olavo de Carvalho, que relaciona o desenvolvimento da razão com a idéia de um Deus transcendente, que está além da natureza. Transcrevo novamente a referida explicação:

Henrique Garcia me pergunta: “Qual sua opinião sobre certas correntes de idéias, presentes sobretudo no meio liberal, que trabalham incessantemente por achincalhar a fé face à razão, atribuindo-a ao obscurantismo, quando não à irracionalidade pura e simples?” Olha aqui, Henrique: o pessoal que faz isso só mostra que é um bando de ignorantes, eles não sabem nem o sentido da palavra razão. A idéia da razão surge na Grécia exatamente como, vamos dizer, a tendência da alma para a contemplação do transcendente. É só a idéia do transcendente que permite o surgimento da razão. A idéia de um Deus transcendente é a idéia fundamental da razão, idéia que na verdade era impossível numa fase anterior da civilização, onde tinha aquela idéia dos “deuses espalhados” aí pela natureza, deuses mais ou menos fundidos na natureza. Na hora em que a idéia da divindade se destaca da natureza cósmica e se abre para a mente humana a idéia do Deus transcendente, do Deus que está para lá do universo, um Deus absolutamente invisível, infinito, aí é que começa a razão, isso é a base da razão. Agora, esses idiotas nem sabem o que é razão!

Esta idéia, de um Deus que transcende a natureza, surge na Grécia pagã, mas se concretiza com o advento do Cristianismo, já que a natureza foi completamente dismistificada pela nova religião – as antigas divindades gregas estavam diretamente associadas a forças da natureza. Para os cristãos, só existe um único Deus, personificado em Jesus Cristo, e a natureza é Sua criação – ou seja: a natureza é obra de Deus, e sua manifestação não tem, em si, nada de divina ou sobrenatural. Essa separação entre “criador” (Deus) e “criatura” (natureza) vai ser de fundamental importância no desenvolvimento do pensamento ocidental. Lembrei-me de outra explicação, bastante didática, do brilhante jornalista português João Pereira Coutinho. Publico aqui um fragmento do texto publicado na Folha Online (íntegra, aqui), que trata sobre a polêmica do Papa com o Islam, ao citar em discurso proferido em uma universidade alemã uma frase que teria ofendido os “sentimentos religiosos muçulmanos”. Este é outro assunto, eu quero é chamar a atenção para o primeiro parágrafo do texto:

O Papa Bento 16 visitou uma antiga universidade alemã e resolveu falar sobre as relações difíceis entre a fé e a razão. Digo “relações difíceis”, mas Ratzinger discorda: para Bento, não existe nenhuma incompatibilidade entre a “fé” e a “razão” porque a razão é uma dádiva de Deus. A tese não constitui uma originalidade do atual Papa. É tese ortodoxa da Igreja Católica e, mais, foi precisamente um tal entendimento que permitiu a emergência da (expressão perigosa) “civilização ocidental”: do renascimento carolíngeo à cultura monaquista da Idade Média (que salvou os textos clássicos que era possível salvar), o convívio entre as coisas do espírito e os trabalhos da mente contribuiu para a fundação das primeiras universidades (de Bologna a Paris) e até para lançar as bases do pensamento científico. Como? Pela “despersonalização” da natureza. Ao contrário do que sustentavam as antigas culturas animistas, a idéia de um universo criado por Deus implica a idéia de um criador que dotou o mundo de leis que só a razão humana pode descobrir.

Parece-me que os três fragmentos acima têm uma relação entre si. Ao proclamar Cristo, Deus Encarnado, o Senhor do mundo, submetendo todas as coisas a Si, o Cristianismo anuncia um Deus transcendente à natureza, infinito, situado muito além da matéria e da própria racionalidade humana; mas ao mesmo tempo indica ao homem a sua própria superioridade sobre a natureza, partindo do que está escrito no Gênesis, logo no comecinho da Bíblia (1, 26-28):

26. Então Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele reine sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra, e sobre todos os répteis que se arrastem sobre a terra.”
27. Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher.
28. Deus os abençoou: “Frutificai, disse ele, e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a. Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra.”

Esses versículos são alguns dos mais importantes trechos da história do pensamento humano. Através da leitura atenta deles, podemos concluir:

  1. Deus criou o ser humano, e somente ele, à sua semelhança (notem o verbo na primeira pessoa do plural, Façamos, vejam a Trindade em ação!). Ou seja: o homem é a criatura mais importante da Criação.
  2. Que ele reine: o homem é o rei dos animais. Ele é soberano, tem vontade e expressa suas vontades. Ele subjuga, domina a tudo. Ao dominar a natureza, torna-se capaz de transformá-la.
  3. Essa ação humana de transformar a natureza tem as bênçãos do próprio Deus. Mas, não nos esqueçamos: esse domínio sobre a Criação é uma dádiva do Criador; não é um mérito do próprio homem.
  4. E Deus não somente abençoa ao homem, mas também à mulher, e a mulher também foi criada à sua imagem e semelhança. É coincidência a questão da igualdade de direitos entre homens e mulheres ter sido levantada justamente no ocidente? Qual era o tratamento dispensado às mulheres nas culturas anteriores ao advento do Cristianismo?

Um mundo sem espíritos, sem superstições, sem divindades traiçoeiras, mas com um único Deus, Criador de tudo, que coloca homem e mulher juntos como ponto alto de sua Criação e os instiga a submeterem a Sua própria Criação, a fim de dominarem tudo. A partir da elevação da razão ao transcendente, vislumbra-se a possibilidade de um método de investigação da natureza, visando sua transformação; a partir da noção de homem e mulher criados à imagem de Deus, amadurece a idéia da igualdade entre os sexos perante Deus e perante a justiça dos homens; e, entre aqueles que ouviram a mensagem bíblica “enchei a terra e submetei-a”, ergue-se a sociedade ocidental, a mais dinâmica, avançada e criativa de todas as culturas que já existiram sobre a face da terra.

Podcast Olavo de Carvalho: Deus transcendente é a idéia fundamental da razão

Na última edição do True Outspeak deste ano de 2008, Olavo de Carvalho comenta sobre a origem da idéia da razão, na Grécia antiga, demolindo um velho preconceito presente no establishment intelectual ateu, muito em voga hoje em dia: a falácia de que a fé é irracional e, por conseguinte, está relacionada ao atraso e à ignorância.

Henrique Garcia me pergunta: “Qual sua opinião sobre certas correntes de idéias, presentes sobretudo no meio liberal, que trabalham incessantemente por achincalhar a fé face à razão, atribuindo-a ao obscurantismo, quando não à irracionalidade pura e simples?” Olha aqui, Henrique: o pessoal que faz isso só mostra que é um bando de ignorantes, eles não sabem nem o sentido da palavra razão. A idéia da razão surge na Grécia exatamente como, vamos dizer, a tendência da alma para a contemplação do transcendente. É só a idéia do transcendente que permite o surgimento da razão. A idéia de um Deus transcendente é a idéia fundamental da razão, idéia que na verdade era impossível numa fase anterior da civilização, onde tinha aquela idéia dos “deuses espalhados” aí pela natureza, deuses mais ou menos fundidos na natureza. Na hora em que a idéia da divindade se destaca da natureza cósmica e se abre para a mente humana a idéia do Deus transcendente, do Deus que está para lá do universo, um Deus absolutamente invisível, infinito, aí é que começa a razão, isso é a base da razão. Agora, esses idiotas nem sabem o que é razão!

Para ouvir o programa na íntegra (uma hora de duração, aproximadamente), baixe o arquivo aqui. Novamente, uma observação aos desavisados: não se assustem com a quantidade de palavrões disparados pelo locutor!