Evolucionismo x fé cristã?

No post Darwinismo fana na Inglaterra e apela à força para impor suas hipóteses, que não foi escrito por mim, mas transcrito do blog Verde, a cor nova do comunismo, recebi este comentário bastante pertinente de Leonel Moura:

Em 1996, o então Papa João Paulo II enviou uma mensagem a Academia Pontifícia de Ciências reconhecendo a validade da Teoria da Evolução como “bem mais do que uma hipótese”. Recentemente, o papa Bento XVI também reconheceu a validade do Evolucionismo. O presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, Gianfranco Ravasi, afirmou que “Não existe contraposição entre fé e evolucionismo”. http://www.estadao.com.br/vidae/not_vid242754,0.htm. “A igreja nunca condenou Darwin e seus escritos”. http://www.estadao.com.br/vidae/not_vid339769,0.htm. Em fevereiro deste ano, foi realizada uma Conferência sobre Darwin no Vaticano em que ficou patente que a única explicação científica para o surgimento das espécies é somente o Evolucionismo, tal qual foi prevista por Darwin 150 anos atrás.

O leitor está corretíssimo na forma como expôs os fatos, apenas discordo de um detalhe do qual falarei abaixo. No geral, alguns esclarecimentos se fazem necessários:

  1. As opiniões dos Papas sobre outros assuntos, que não fé e moral, não são, de forma alguma, infalíveis. Qualquer católico pode discordar do Papa quando ele se pronuncia a respeito de outros assuntos. Ou então, todo católico seria obrigado a gostar de Bob Dylan, porque João Paulo II gostava das músicas dele… Portanto, qualquer católico pode discordar tanto de João Paulo II quanto de Bento XVI a respeito desses pronunciamentos sobre a teoria da evolução.
  2. É verdade que pode não existir “contraposição entre fé e evolucionismo” se for considerada uma premissa: desde que o evolucionismo não exclua a possibilidade de haver um Criador, um Ser Trancendente – e é o que cientistas “ateus a toas” como Richard Dawkins afirmam, transformando o evolucionismo em um discurso panfletário pró-ateísmo. Na verdade, o ponto abordado pelo texto não é tão a idéia do evolucionismo em si, mas a utilização da teoria de Darwin como propagadora do ateísmo.
  3. Se essa conferência realizada no Vaticano defendeu que “a única explicação científica para o surgimento das espécies é somente [sic] o Evolucionismo”, foi uma baita pisada de bola! Não existe ainda nenhuma prova científica definitiva da validade da teoria de Darwin – por enquanto, o evolucionismo ainda é apenas uma hipótese, e muito difícil de ser demonstrada cientificamente. De forma bastante objetiva, comenta Olavo de Carvalho: “Não sei se a evolução biológica aconteceu ou não. Ninguém sabe.”

Gostaria de dizer que não tenho opinião formada sobre o assunto. Pessoalmente, não acredito que a fé em Deus e nos dogmas católicos seja totalmente incompatível com uma teoria da evolução que reconheça a Deus como princípio criador de todo o universo. Mas trata-se apenas de uma opinião. Posso indicar sobre este assunto os seguintes textos:

Entre os selvagens, os fracos de corpo e mente são logo eliminados. Nós, civilizados, fazemos o possível para evitar essa eliminação; construímos asilos para os imbecis, os aleijados, os doentes; instituímos leis para proteger os pobres… Isso é altamente prejudicial à raça humana.

E o William Murat, do blog Contra o Aborto, me indicou o blog Desafiando a Nomenklatura Científica, de Enézio de Almeida, para enriquecer ainda mais essa discussão – repasso essa indicação a todos.

6 comentários sobre “Evolucionismo x fé cristã?

  1. O tema “evolucionismo” já foi abordado pela teologia tradicional da Igreja, especialmente por São Boaventura, conforme pode-se ver na postagem que fiz em meu blog Quodlibeta – eis o link:
    http://quodlibeta.blogspot.com/2008/10/evoluo-teria-vindo-aps-criao-diz-o-papa.html
    Fica sssim tudo claro: desde que Deus esteja conduzindo o processo de evolução da matéria, tudo se explica, não cientificamente, é claro, mas filosofica e teologicamente. Aliás, a teoria de Darwin é meramente filosófica. A propósito, há uma corrente científica moderna que estuda o evolucionismo através de um pressuposto chamado “Design Inteligente”, isto é, admitindo que tudo só foi possível mediante uma inteligência criadora e desenvolvimentista do processo.

  2. Um adendo às minhas considerações: A Teoria da Evolução, como o nome diz, é uma teoria, não uma hipótese. E o fato de ser uma teoria em nada a invalida, pois admite contestações e contraposições, o que caracteriza a Ciência. E algumas de suas premissas foram, sim, comprovadas cientificamente, como a microevolução. E os avanços da genética e da biologia até agora só a referendaram, nunca a desmentiram – como o mapeamento genético, que mostrou a extrema semelhança dos DNAs dos humanos e dos macacos, o que só corroboram a tese de um ancestral comum. Mesmo entre os criaciacionistas mais ferrenhos se admite que houve alguma evolução. Sobre a Conferência sobre Darwin no Vaticano realizada em março deste ano, é interessante destacar uma afirmação feita pelos coordenadores da conferência:”… o design inteligente (ID, na sigla em inglês) é de natureza ideológica e cultural, que não deve ser discutido no terreno científico, filosófico ou teológico”. Ou ainda: “O ID é uma ideia cara aos criacionistas, segundo a qual certas características do universo e dos seres vivos se explicam pela ação de uma causa inteligente. A maioria dos teólogos e cientistas não considera o ID como teoria válida. É má religião e má ciência, mas há questões amplas, de ordem econômica, política e cultural, que mantêm o ID vivo, disse Eduardo Rodrigues da Cruz, professor de pós-graduação do Departamento de Teologia e Ciências da Religião da PUC-SP”. http://www.estadao.com.br/noticias/geral,vaticano-inicia-hoje-debate-sobre-evolucao,332530,0.htm

  3. Comentando a afirmativa “E os avanços da genética e da biologia até agora só a referendaram, nunca a desmentiram – como o mapeamento genético, que mostrou a extrema semelhança dos DNAs dos humanos e dos macacos, o que só corroboram a tese de um ancestral comum”, podemos indagar se foram feitos outros “mapeamentos genéticos” com outros animais, que não sejam os símios. Assim, diante da negativa, podemos igualmente levantar a hipótese de que hajam outros “ancestrais comuns”, além do macaco! Afinal, as investigações (devemos perguntar, até com o intuito de ‘dar um xeque’ nos ateistas, que estão interessados em provar que a história de Adão e Eva é “conto da carochinha”), pergunto, a finalidade das investigações nessa área, afinal, tem ou não tem a intenção de demonstrar que Charles Darwin estava certo, e com isto provar uma ‘lei de evolução humana” que impugne os ensinamentos perenes da Santa Igreja Católica?

  4. A teoria da evolução é apenas isso: Uma teoria.
    Não se pode provar uma tese cientifica baseado
    numa teoria. Ela primeiro precisa ser provada.
    Parece-me que todo esse debate é construído
    em cima de desinformação, um velho truque
    comunista.

  5. Sim, é uma teoria, mas ao menos É uma teoria científica. É claro que, ao menos na linha popperiana, nunca poderá ser verificada, tão somente refutada por outra teoria melhor. Até agora isso não aconteceu, portanto, a teoria da evolução é a melhor teoria de que dispomos para explicar a origem das espécies. Dose é ter que aguentar carolas patéticos defendendo criacionismo ou bobagens como design inteligente. Minha sugestão aos defensores do criacionismo: se matem. Nao existe o paraíso? Então, o que estão esperando?

  6. Ei, ei, ei! Espera aí, sabidão! Você já leu “A Origem das Espécies”, de Charles Darwin? Provavelmente, não leu! Vejamos o último parágrafo do livro:

    É interessante contemplar um riacho luxuriante, atapetado com numerosas plantas pertencentes a numerosas espécies, abrigando aves que cantam nos ramos, insetos variados que volitam aqui e ali, vermes que rastejam na terra úmida, se se pensar que estas formas tão admiravelmente construídas, tão diferentemente conformadas, e dependentes umas das outras de uma maneira tão complexa, têm sido todas produzidas por leis que atuam em volta de nós. Estas leis, tomadas no seu sentido mais lato, são: a lei do crescimento e reprodução; a lei da hereditariedade que implica quase a lei de reprodução; a lei de variabilidade, resultante da ação direta e indireta das condições de existência, do uso e não uso; a lei da multiplicação das espécies em razão bastante elevada para trazer a luta pela existência, que tem como conseqüência a seleção natural, que determina a divergência de caracteres, a extinção de formas menos aperfeiçoadas. O resultado direto desta guerra da natureza que se traduz pela fome e pela morte, é, pois, o fato mais admirável que podemos conceber, a saber: a produção de animais superiores. Não há uma verdadeira grandeza nesta forma de considerar a vida, com os seus poderes diversos atribuídos primitivamente pelo Criador a um pequeno número de formas, ou mesmo a uma só? Ora, enquanto que o nosso planeta, obedecendo à lei fixa da gravitação, continua a girar na sua órbita, uma quantidade infinita de belas e admiráveis formas, saídas de um começo tão simples, não têm cessado de se desenvolver e desenvolvem-se ainda!

    (tradução de Joaquim da Mesquita Paul, edição portuguesa publicada por LELLO & IRMÃO – EDITORES – PORTO; grifos meus).

    O que Darwin queria dizer com isso? Qual o ponto de partida para o “design inteligente”, senão este parágrafo, escrito pelo próprio Darwin? Quem é patético aqui neste debate? Minha sugestão a você: para de ler “Superinteressante” e vá às fontes primárias! Para de fingir erudição e estude o assunto! Deixa de ser picareta, moleque! Cresce um pouco!

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