Porta-voz vaticano: morte de Eluana Englaro não tem última palavra

Pede que seja motivo de reflexão sobre o valor da vida humana

ROMA, quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009 (ZENIT.org).- A morte de Eluana Englaro, a mulher italiana de 38 anos em estado vegetativo há 17 anos, falecida na noite desta segunda-feira, não tem a última palavra, assegura o porta-voz vaticano.

O Pe. Federico Lombardi S.J., diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, comentou o desenlace terreno desta frágil vida, que aconteceu enquanto no Senado da Itália se debatia um projeto de lei para proibir a suspensão da nutrição e hidratação que mantinha a jovem com vida.

O sacerdote recordou Eluana como «uma pessoa que foi muito querida e que nos últimos meses se converteu em parte de nossa vida. Agora que Eluana está na paz, esperamos que seu caso, depois de tantas discussões, seja motivo para todos de uma reflexão serena e de busca responsável dos melhores caminhos para acompanhar as pessoas mais frágeis, com amor e cuidadosa atenção, com o devido respeito do direito à vida», afirma em uma nota difundida através da Rádio Vaticano.

Citando as palavras que Bento XVI pronunciou durante o Ângelus deste domingo, seu porta-voz mencionou especialmente as pessoas que «não podem valer-se por si mesmas, mas dependem totalmente dos demais».

«A morte de Eluana nos deixa necessariamente uma sombra de tristeza pelas circunstâncias nas quais aconteceu – reconhece o Pe. Lombardi. Mas a morte física não nunca tem a última palavra para o cristão. Portanto, em nome de Eluana, continuaremos procurando os caminhos mais eficazes para servir a vida», conclui.

A morte de Eluana aconteceu enquanto cumpria o terceiro dia sem alimentos nem hidratação na clínica La Quiete da cidade de Udine.

Os bispos italianos haviam pedido repetidas vezes que ela fosse mantida viva, pois não dependia de máquinas para viver, mas unicamente do fornecimento de alimentação e hidratação.

Ao tornar-se pública a notícia de sua morte, a Conferência Episcopal Italiana publicou um comunicado para manifestar sua «grande dor» e expressar a esperança de que sua morte una «aqueles que creem na dignidade da pessoa e no valor inviolável da vida, sobretudo quando é indefesa».

«Dirigimos um pedido a todos para que não desfaleça esta paixão pela vida humana, desde sua concepção até seu ocaso natural», concluem os prelados italianos.

Fonte: Zenit.

Missionário devolve título honorífico ao presidente da Itália

O presbítero Aldo Trento é responsável por uma clínica para doentes terminais

ROMA, sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009 (ZENIT.org).- O sacerdote Aldo Trento é, desde 1989, um dos missionários mais conhecidos da Fraternidade de São Carlos Borromeu do Paraguai. Ele tem 62 anos e é responsável por uma clínica para doentes terminais em Assunção.

Em 2 de junho passado, o presidente da República Italiana, Giorgio Napolitano, havia lhe conferido o título de Cavaleiro da Ordem da Estrela da Solidariedade. Nesta quarta-feira, o sacerdote devolveu o reconhecimento a Napolitano, por não ter assinado o decreto que teria detido o protocolo médico para Eluana Englaro.

«Como posso eu, cidadão italiano, receber semelhante honra quando o senhor, com sua intervenção, permite a morte de Eluana, em nome da República Italiana?», pergunta.

«Tenho mais de um caso como o de Eluana Englaro – relata Aldo Trento. Penso no pequeno Víctor, um menino em coma, que aperta os punhos; a única coisa que fazemos é dar-lhe de comer com a sonda. Diante destas situações, como posso reagir frente ao caso de Eluana?»

«Ontem me trouxeram uma menina nua, uma prostituta, em coma, deixada na porta de um hospital; ela se chama Patrícia, tem 19 anos; nós a lavamos e limpamos. E ontem ela começou a mexer os olhos», afirma.

«Celeste tem 11 anos, sofre de leucemia gravíssima, não havia sido tratada nunca; trouxeram-na para mim a fim de que fosse internada. Hoje Celeste caminha. E sorri.»

«Levei ao cemitério mais de 600 destes enfermos. Como se pode aceitar semelhante operação, como a que se fez com Eluana?»

«Cristina é uma menina abandonada em um lixo, é cega, surda, treme quando a beijo, vive com uma sonda, como Eluana. Não reage, só treme, mas pouco a pouco recupera as faculdades», acrescenta.

«Sou padrinho de dezenas destes enfermos. Não me importa sua pele putrefata. O senhor teria que ver com que humildade meus médicos tratam deles.»

Aldo Trento diz experimentar uma «dor imensa» pela história de Eluana Englaro: «É como se me dissessem: agora levaremos embora seus filhos enfermos».

Para o missionário, «o homem não pode se reduzir à questão química».

«Como pode o presidente da República oferecer-me uma estrela à solidariedade no mundo? Assim que recebi a estrela, eu a levei à embaixada italiana no Paraguai.»

«Aqui o racionalismo cai, deixando espaço ao niilismo – comenta. Dizem-nos que uma mulher ainda viva já estaria praticamente morta. Mas então é absurdo também o cemitério e o culto à imortalidade que animam a nossa civilização.»

Fonte: Zenit.