África: mortos sem utilidade ideológica

O mundo inteiro acompanhou a ofensiva israelense na Faixa de Gaza, graças à cobertura massiva dos meios de comunicação. E, claro, a opinião pública mundial foi devidamente manipulada para que todos ficassem contra Israel, em favor dos terroristas palestinos do Hamas. Nesse sentido, o resultado foi perfeito.

Mas a maior demonstração de que razões políticas, e não humanitárias, determinam a atenção da imprensa para determinados conflitos em detrimento de outros é o silêncio quase total das agências de notícias internacionais sobre o que está acontecendo atualmente na África, onde duas nações estão à beira da convulsão social.

A revista Veja, em dezembro passado, fez uma matéria sobre Darfur. Agora, pelo menos, seria bom alguém prestar atenção no que está acontecendo no Congo e em Madagascar.

A Igreja Católica está lá, entre tantas tristezas e desgraças, levando o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo e alertando o resto do mundo para o que está acontecendo.

Transcrevo integralmente o texto da Agência Fides:

ÁFRICA/CONGO RD – Uma notícia que não foi dada: 900 pessoas massacradas em um mês no Congo

Kinshasa (Agência Fides) – Uma notícia que não foi dada: foi atualizado o balanço dos massacres ocorridos no norte da República Democrática do Congo desde o Natal 2008 até hoje: mais de 900 mortos. Mesmo assim o mundo (sobretudo a Europa, sempre prontra a comover-se pelos amores falidos da celebridade do momento) não percebeu, não obstante as publicações da imprensa missionária (entre elas a Fides).

Os massacres foram realizados pela guerrrilha Exército da Resistência do Senhor (LRA) um grupo ugandense (formado por crianças soldado engajados à força depois de serem seqüestrados, e muitas vezes depois de terem visto ao massacre de seus próprios parentes) que age não somente ao norte de Uganda (onde se formou em 1986, sobre as cinzas de um precedente movimento), mas agora também no Congo, sul do Sudão e até mesmo na República Centro-africana.

Para procurar acabar com o LRA no final de dezembro de 2008 foi iniciada uma operação militar conjunta por parte dos exércitos de Uganda, Congo e sul do Sudão, contra o quartel general da guerrilha na floresta de Garamba, no Congo (ver Fides 15/12/2008). Uma operação apoiada pela ONU e pelos Estados Unidos, como foi publicado pela imprensa estadunidense (veja “Hoje na Internet” de 9/2/2009), mas que faliu o objetivo de arrestar a liderança da guerrilha, que é procurada pela Corte Penal Internacinal por crimes contra a humanidade.

Em resposta o LRA fez uma violenta represália contra as inocentes populações congolesas: inteiros povoados foram saqueados e destruídos; inteiras famílias massacradas: mulheres e crianças foram os primeiros a pagar. Os 17 mil Capacetes Azuius da Missão das ONU no Congo (MONUC, outra das tantas siglas que se tornaram sinônimos de impotência da comunidade internacional) parecem ser somente espectadores dos massacres das populações que deveriam defender segundo o mandato da sede da ONU, o Palácio de Vidro, em Nova Iorque, (tanto de vidro que parece inconsistente).

Mas as notícias são outras… nós hoje publicamos uma notícia que não foi dada. (L.M.)

Agora, outro texto, dessa vez sobre Madagascar:

ÁFRICA/MADAGASCAR – “O novo derramamento de sangue inflamou os ânimos da população” dizem as fontes de Fides

Antananarivo (Agência Fides)- “Pelas nossas informações os mortos são mais de 40 e os feridos mais de 200” dizem à Agência Fides fontes da Radio Don Bosco de Antananarivo, capital de Madagascar, onde no sábado, 7 de fevereiro, a Guarda Presidencial disparou contra os manifestantes que se aproximavam da sede dos escritórios do Presidente Marc Ravalomanana.

A manifestação foi organizada pelo prefeito que renunciou ao governo de Antananarivo, Andry Rajoelina, que estabeleceu uma dura disputa com o Presidente Ravalomanana (ver Fides 5/2/2009).

“Recebemos um comunicado em nome da Ministra da Defesa, Cécile Manorohanta, do qual tentamos avaliara a autenticidade, em que é anunciada a sua renúncia, por ser contra ao uso da força contra os manifestantes. Segundo algumas opiniões, a renúncia da Ministra da Defesa seria somente o início e nas próximas horas haveria outras renúncias de Ministros” explicam as nossas fontes. Segundo fontes da imprensa, com efeito, também o Ministro da Justiça, Bakolalao Ramanandraibe Ranaivoharivony, apresentou a sua renúncia.

“Esse novo derramamento de sangue (anteriormente, segundo a polícia pelo menos 44 pessoas foram mortas em outros conflitos com as forças da ordem, e 120 segundo fontes independentes) ha inflamou os ânimos da população: agora, muitos pedem a renúncia do Presidente” continuam as fontes da Fides.

Da manifestação de 7 fevereiro participaram milhares de pessoas. “Quando os manifestantes começaram a se aproximar do palácio presidencial, e não da residência do Chefe de Estado, que não é no centro da cidade, a Guarda Presidencial disparou repentinamente, sem tiros de advertência para o alto ou lançamento de bombas de gás lacrimogêneo. Os mortos são quase todos jovens; entre eles há pessoas provenientes da província, o que demonstra que nesse não é um movimento somente da capital, tem dimensão nacional” explicam as fontes da Fides.

No sábado estava prevista a participação na manifestação do famoso cantor Rossy, que vive no exílio na França (ver Fides 3/2/2009). “Rossy não chegou porque, no dia 7 de fevereiro com uma motivação técnica, foram cancelados diversos vôos de e para Madagascar” contam as nossas fontes.

Em nome do Fórum das igrejas cristãs de Madagascar (FFKM, do qual fazem parte a Igreja católica, a Igreja reformada protestante de Madagascar, os luteranos e os anglicanos), o Presidente, Dom Odon Marie Arsène Razanakolona, Arcebispo de Antananarivo, criticou duramente o derramamento de sangue de sábado, e convidou as duas partes ao diálogo. “Nas próximas horas esperamos uma nova tomada de posição da FFKM e um comunicado da Igreja católica” afirmam as fontes da Fides.

Andry Rajoelina, que semana passada autoproclamou-se Presidente em oposição ao atual Chefe de Estado Ravalomanana e, em seguida, anunciou a formação de um governo de transição liderado por Zafitsimivalo Monja Roindefo, pediu que seja proclamado um dia de luto nacional. Rajoelina pretende encontrar o enviado especial da ONU para Madagascar, Haile Menkerios, que deverá encontra-se também com o Presidente. A oposição pede a renúncia do presidente, acusado de limitar as liberdades civis e minar a economia para atender aos próprios interesses. (L.M.)

São mortos que ninguém quer saber. O PT lançou nota oficial lamentando ou condenando alguém? Não. A Folha de São Paulo chamou “intelequituais” para debates intermináveis nas suas páginas? Não. Alguém saiu na rua pra protestar em algum lugar contra a ineficiência da ONU? Não. E por que tanta indiferença? Porque esses mortos não têm filiação ideológica. Nenhum político se interessa por eles. Não saem nas manchetes de jornal porque a violência não foi provocada por “cruéis americanos militaristas conservadores, sedentos de petróleo e sangue estrangeiro”, muito menos pelo “agressor sionista”. São “apenas” africanos matando africanos.

E somente os cristãos arriscam a vida e levantam a voz para ouvidos moucos.