Mensagem do dia (19/10/2010)

Há um silêncio que dá Deus. Qual silêncio? Não é o silêncio do homem, esse que o homem encontra entre os homens, esse em que o homem pode iniciar-se. É o silêncio da alma que se recolhe, da alma que escuta Deus, e a quem Deus fala. Deus fala àqueles que se calam, que reservam tempo para o ouvir e o esperar.

Pierre Blanchard.

Mensagem do dia (03/04/2010)

Que está acontecendo hoje? Um grande silêncio reina sobre a terra. Um grande silêncio e uma grande solidão. Um grande silêncio porque o Rei está dormindo; a terra estremeceu e ficou silenciosa, porque o Deus feito homem adormeceu e acordou os que dormiam há séculos. Deus morreu na carne e despertou a mansão dos mortos.

Liturgia das Horas – II leitura do Sábado Santo (autor grego desconhecido).

Mensagem do dia (31/03/2010)

Vede de que compaixão Cristo dá provas para com Judas, o homem que recebeu tanto amor e, contudo, traiu o próprio Mestre, esse Mestre que manteve um silêncio sagrado, sem o atraiçoar perante os companheiros. Com efeito, Jesus poderia muito bem ter falado abertamente, revelando aos outros as intenções ocultas e os atos de Judas; mas não o fez. Preferiu dar provas de misericórdia e de caridade; em vez de o condenar, chamou-lhe amigo. Se Judas tivesse olhado para Jesus de frente, como fez Pedro, teria sido amigo da misericórdia de Deus. Jesus foi sempre misericordioso.

Beata Teresa de Calcutá.

Mensagem do dia (02/11/2009)

Nossa consciência da morte não será o temor paralisante que gera a incerteza de “quando chegará”, nem a ilusão de que nunca nos chegará. Nossa atitude de vigília é também atitude de oração, de escuta reverente da palavra, é silêncio que acolhe o desígnio divino para colocá-lo em prática pô-lo em obra. Esta não é outra coisa que viver em uma permanente presença do Senhor.

Germán Doig.

O silêncio na liturgia

O site La Buhardilla de Jerónimo traduziu e publicou uma entrevista que o  monsenhor Guido Marini, Mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias, concedeu à revista Radici Cristiane. O texto, na íntegra em espanhol, está aqui.

Para quem não sabe, monsenhor Guido se encarrega de preparar as cerimônias das quais o Papa participa, assim como todos os atos nas viagens ao exterior do Pontífice.

Transcrevo adiante em português trecho da entrevista que mais me chamou a atenção:

Qual é, em sua opinião, a importância do silêncio na liturgia e na vitalidade da Igreja?

Tem uma importância fundamental. O silêncio é necessário na vida do homem porque o homem vive de palavras e de silêncios. O silêncio é ainda mais necessário na vida do crente, que ali encontra um momento insubstituível da própria experiência do mistério de Deus. A vitalidade da igreja e, na Igreja, a liturgia, não estão subtraídos dessa necessidade. Aqui, o silêncio quer dizer escuta e atenção ao Senhor, a sua presença e a sua Palavra; e, junto a isso, implica a atitude de adoração. A adoração, dimensão necessária do ato litúrgico, expressa a incapacidade humana de pronunciar palavras, permanecendo “sem palavras” ante a grandeza do mistério de Deus e a beleza de seu amor.

A celebração litúrgica é composta por palavras, cantos, músicas, gestos… Também o silêncio e momentos de silêncio fazem parte dela. Se esses momentos faltaram, ou não foram suficientemente enfatizados, a liturgia não seria plena, porque estaria privada de uma dimensão insubstituível de sua natureza.

O silêncio do Natal

Por John Jalsevac.

Uma das coisas mais surpreendentes sobre o Natal é seu silêncio.

Nas minhas primeiras aulas de História, nosso professor um dia leu em voz alta duas histórias – uma, relatando o nascimento de Siddhartha Gautama (mais tarde, conhecido como Buda), e outra, o nascimento de Jesus Cristo. A diferença não poderia ser mais profunda.

A primeira criança nasceu no meio de uma exagerada abundância – em um pomar aromático de árvores floridas, cercado de milhares de criados, com deuses e elefantes e jóias e chuvas de pétalas de rosa, e tecidos entrelaçados de metais preciosos, e perfumes celestiais que preenchiam o ar. E, quando Gautama nasceu, dizem que ele deu sete passos e proclamou “Eu sou meu próprio senhor entre o céu e a terra!” Seu nascimento se parece (especialmente, em comparação com o nascimento de Cristo) com um incidente turbulento.

Não há necessidade de contar novamente a história do nascimento de Cristo, por ela ser familiar – certamente, familiar demais. É tão familiar que, freqüentemente, o Natal chega e passa e nós não gastamos cinco minutos imaginando o que foi realmente aquilo. Mas, se nós o fizéssemos, certamente ficaríamos perplexos pelo imenso absurdo da coisa.

O que, eu suspeito, era o que nosso professor almejava concluir por sua justaposição: conscientizar-nos sobre o absurdo do Natal. Os sábios percebem que a forma correta de despertar a reflexão para a singularidade de alguma coisa é colocá-la em contraste a outra coisa, bastante diferente. E, de fato, este tipo de revelação através da comparação funciona melhor quando as duas coisas comparadas compartilham alguma similaridade, mas então diferem na mesma coisa que almejam revelar, a qual então brilha adiante como uma estrela solitária num céu escuro. E, enquanto o Buda e o Cristo de alguma forma eram ambos cridos como salvadores, em seus primeiros momentos na terra um atraiu toda a atenção do mundo para si mesmo, e declarou-se como seu “próprio senhor”, enquanto o Outro cobriu-se a Si mesmo com um véu de silêncio quase completo.

Certamente, nos é dito que a seguir ao nascimento de Cristo houve aparições de anjos e até mesmo um coro angelical a cantar, e, neste sentido, o Natal guarda alguma remota semelhança ao nascimento de Buda. Mas, curiosamente, os anjos do relato natalino de Lucas não apareceram na gruta em Belém, não festejaram o Menino Jesus com canções; ao invés disso, apareceram, de um jeito quase irrelevante, fora da cidade para um grupo de pastores. É como se os anjos estivessem sob estritas ordens para se manterem quietos sobre o acontecimento, mas não puderam manter sua promessa diante de uma alegria exuberante e absoluta: e então eles quebraram seu silêncio por um momento glorioso, pelas costas de Deus (na realidade, pela primeira vez na História poderíamos dizer que Deus tem costas).

nascimento de jesus 2

Uma imagem conveniente talvez seja a de que era como se Deus fosse uma mãe generosa e amorosa de muitos filhos, que tivesse alcançado um marco memorável (digamos, seu sexagésimo aniversário), mas que, mantendo seu costumeiro hábito de discrição e desprendimento, ordena expressamente a seus filhos que prometam não fazer um grande alvoroço com aquilo e, certamente, que não organizem uma grande e embaraçosa comemoração. Os filhos certamente manterão sua promessa em respeito aos desejos de sua mãe, mas ainda assim provavelmente chamarão os amigos mais próximos, lembrando-lhes do aniversário dela e possivelmente sugerindo que eles apareçam inesperadamente para um chá, como se fosse “por um acaso”. E esses gestos furtivos e discretos garantirão que a mãe saiba que este é um dia de especial importância, e que ela é o centro dele.

Para mim, parece que a atitude dos anjos natalinos, os quais, como os filhos dessa mãe, procuraram os amigos mais próximos do Menino Jesus – os simples e modestos pastores – parecia dizer “Bem, não podemos fazer um barulho muito grande disso, mas se vocês aparecerem por lá de surpresa e lhe prestarem homenagens, não seria uma má idéia. Afinal de contas, é seu aniversário.” No dia de Natal, a gruta onde estava o Deus-Homem ficou completamente sossegada, sem qualquer tumulto, exceto por uma breve visita de uns poucos amigos mais chegados.

Este aspecto particular da história do Natal revela uma enorme verdade, que nossa civilização parece irresponsavelmente determinada a esquecer: estranhamente, parecemos mais inclinados a esquecê-la durante a própria época em que é celebrada. É a mesma verdade encontrada do começo ao fim das escrituras, a mesma verdade que todos os santos através da História repetem. É simplesmente o seguinte: a Deus se encontra no silêncio.

Naturalmente, sem silêncio ninguém jamais chegará a conhecer Deus.

E assim, durante essa época de Natal, vamos renovar nossa resolução de não sermos perturbados por nada: cultivar em nós mesmos, através da oração diária, o silêncio de Belém, o qual nos permitirá enfrentarmos com determinação todos os desafios à essa paz supranatural, que é, em um sentido mais estrito, uma antecipação do Paraíso.

Versão reduzida de texto publicado no maravilhoso site pró-vida LifeSiteNews (clique aqui para o original em inglês). Lembrem-se desse magnífico apostolado em suas orações. Traduzido e adaptado por Matheus Cajaíba.