Meu xará Matheus me manda um comentário com uma pergunta bastante pertinente, a qual faço questão de responder por aqui, por ser um ponto bastante importante:
“Do ponto de vista cristão, homossexualismo é considerado erro. E a Bíblia é a Palavra de Deus, infalível quando ensina doutrina religiosa, cuja interpretação correta para os católicos é de responsabilidade do Magistério da Igreja Católica.”
Isso pode soar retórico, mas, realmente, desconheço o assunto. Recentemente, comecei a ler a bíblia. Vai minha pergunta: não é possível o indivíduo católico seguir sua própria interpretação da bíblia? abraço!
Resposta objetiva: não, isso não é possível.
Para ficar mais claro, transcrevo um comentário a respeito deste assunto, escrito pelo Pe. Antônio das Mercês Gomes e embasado pela própria Bíblia:
Nós, católicos, afirmamos que só a Igreja, através dos legítimos sucessores dos Apóstolos [os bispos], pode dar a interpretação certa e verdadeira dos textos da Bíblia. O Espírito Santo está em todos nós, nos move e ilumina para entender, pôr em nossa vida a Palavra de Deus. Mas, quando se trata de ver o sentido exato de um texto, não cabe ao cristão em particular, mas à Autoridade da Igreja, por seus legítimos pastores, sucessores dos apóstolos, que formam o Magistério da Igreja (seu ensinamento oficial), nos dar a verdadeira interpretação.
Lutero criou a chamada interpretação particular da Bíblia, dizendo que o Espírito Santo ilumina a todos e a cada um. Resultado disto é esta divisão entre eles [protestantes], que se torna cada vez maior, pois perderam o centro, o eixo de tudo.
Vejamos o que diz a própria Bíblia a este respeito. Diz Pedro, na sua Segunda carta, capítulo I, versículo 20: “Antes de tudo, sabei que nenhuma profecia da Escritura é de interpretação pessoal”.
Falando sobre as cartas de Paulo, na mesma carta, cap. 3, vers. 16, Pedro diz: “Nelas ha algumas passagens difíceis de entender, cujo sentido os espíritos ignorantes ou pouco fortalecidos deturpam, para a sua própria ruína, como fazem também com as demais escrituras”.
Conversando com o eunuco da rainha da Etiópia, o diácono Felipe lhe pergunta, depois de vê-lo lendo o livro do profeta Isaías:
– Porventura entendes o que estás lendo?
Responde o eunuco:
– Como posso entender se não há alguém que me explique?
E Felipe, escolhido pelos apóstolos, explica ao eunuco. (Atos 8, 26-31).
Muito bem, Matheus. Você desconhece o assunto e procura aprender a respeito, evitando cometer injustiças. Esta é uma atitude sensata. Que o Espírito Santo o ilumine em sua busca pela Verdade.
Se não posso interpretar o que leio e devo entregar o entendimento do que leio a terceiros, então não preciso ler.
Benjamin, o problema está em você confundir “interpretação” e “entendimento”. Ao ler um livro, certamente podemos ENTENDÊ-LO num sentido fortemente literal. Isso, todavia, não implica deduzir o verdadeiro significado do texto, necessitando-se, pois, INTERPRETÁ-LO corretamente. No caso particular da Bíblia, justamente por ser a Palavra de Deus, imutável e absoluta, não se comportam interpretações, conforme critérios pessoais de cada leitor, mas UMA ÚNICA interpretação, e aí entra o papel relevante, indispensável, do Magistério da Igreja.
A distinção entre entendimento e interpretação pode ser ilustrada à vontade com outros exemplos além da Bíblia. Apenas para destacar um deles, que ora me ocorre, revejamos o caso Galileu. O cientista pisano foi chamado ao Santo Ofício após ter publicado – com o “imprimatur” da própria Igreja – o seu livro “Discurso sobre Duas Novas Ciências”, no qual se serve do estilo clássico do diálogo, usual desde a Antiguidade. No livro de Galileu, os dialogantes – em número de três – são fictícios: Simplício, Sagredo e Salviatti. Pois bem: pode-se ler todo o texto galileano e ENTENDÊ-LO, sem qualquer dificuldade (na minha opinião), sem atentar para sentidos outros que não a letra do que está escrito. Mas foi precisamente uma INTERPRETAÇÃO, segundo a qual o personagem Simplício satirizava o Papa Urbano VIII, que muito contribuiu para a antipatia criada em torno do autor, no último refúgio em que ele enfatizava suas idéias – a Igreja.
Para finalizar: as Bíblias propiciam a leitura do texto básico e amiúde disponibilizam sua interpretação, conforme o Magistério da Igreja, nas notas de rodapé. Portanto, ainda que se tenha entendimento e interpretação como a mesma coisa, não haveria a necessidade de se remeter a leitura a terceiros. Assim, o fato de o Magistério da Igreja trazer a si a atribuição exclusiva de interpretar o texto sagrado não equivale a monopolizar a sua leitura, tendo em vista essa interpretação, a única, não é um conhecimento secreto ou de difusão proibida, o que motivaria encaminhar a leitura da Palavra de Deus a tais conhecedores.
Eduardo Araujo, antes de mais nada quero pedir desculpas por só agora ter-me dado conta de que finalmente alguém aqui me deu atenção. Eu já havia desistido de procurar por questionamentos às minhas considerações.
Vc tem toda razão quando diz que entendimento e interpretação não se confundem. Mas o que vem antes? A interpretação ou o entendimento? Ou são consecutivos indefinidamente. Quero dizer, a cada nível de leitura. Leio, entendo, interpreto, entendo a interpretação, releio, entendo mais profundamente, reinterpreto, entendo a reinterpretação, e assim sucessivamente. Aprofundar-se no entendimento e na interpretação parece-me ser o mote.
No caso particular da Bíblia, definitiva e eterna, não há como não considerá-la dinâmica, por essas mesmas razões. Há na Bíblia determinações divinas que não podem ser interpretadas ao pé da letra.
Deus disse ao homem que procriasse e povoasse toda a Terra. O homem já cumpriu essa determinação. E agora? O que diz o Magistério da Igreja? Em absoluto, não me refiro como resposta ao controle de natalidade.
Deus é Amor. Então, sendo Deus único, o Amor não é um sentimento. É Espírito. Jamais ouvi o Magistério da Igreja fazer essa diferença crucial. Crucial porque sendo Deus, Amor, então posso “vê-lo” no outro. Como dizia São João, “como que por um espelho”, daqueles feitos de placas de cobre com suas imagens pouco nítidas. Ainda assim, lá está Ele. Presente e de alguma forma Visível.
DEUS NÃO É INVISÍVEL.
Coisa que o Magistério não soube divulgar. E por conta disso o homem perdeu-se de Deus.
Que a Instituição Igreja espera que se dê a Palavra uma única interpretação, é razoável. É preciso que haja Unidade para ser Verdade. Aliás, é mais do que razoável, é imprescindível. Por isso mesmo a interpretação que o Magistério dá a Bíblia tem que ser Divina e na Verdade. A Verdade é dona homem e não o homem dono da Verdade.
Entretanto, como é fácil verificar, foram os equívocos das interpretações que pulverizaram a Igreja ao longo dos séculos e continua desintegrando-a. Assim é que caminhamos para o Apocalipse. Graças a Deus!
Mas eu quero me salvar com ou sem o Magistério. E não posso me deixar confundir. Não vou permitir que isso aconteça, nem Deus me quer confundido.
Desde dentro da minha insignificância não tenho o menor receio de criticar a teologia corrente porque acredito nas revelações que foram dadas a este pequenino. Porque eu tambem SOU!
Também a Evangelização é, como a Bíblia, dinâmica. Porque definitiva, eterna.
Já não basta que se diga, creio em Jesus como o Filho Unigênito para se ter como evangelizado. Nem todo o conhecimento teológico é suficiente.
Maior que a maior das teologias é a GRAÇA. E só Ela tem o poder de evangelizar. E por ela peço em todos os instantes de minha reles existência para poder exisitr na Verdade, em Jesus.
Que a Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja com todos, e muito principalmente com o Magistério das Igrejas.
Benjamin, alguns de seus comentários serão respondidos por mim assim que isso for possível.
Caros, Salve Maria
Gostaria de deixar aqui minha contribuição para essa questão um link para download do excelente livro “Legítima Interpretação da Bíblia – Lúcio Navarro”, para ser lido por todos aqueles que desejam um maior conhecimento das verdades da Fé:
http://www.gloria.tv/?media=92842
Fiquem com Deus